Nada melhor que passar as férias na casa da avó, não é mesmo? Essa atividade prazerosa faz parte da rotina da pequena Salomé (Lua Michel) em “Alma Viva”. Ela vive na França com a mãe, mas visita a avó e os tios em uma pequena vila portuguesa. Parece um cenário idílico de uma infância perfeita, não fosse a avó ser considerada uma bruxa pela comunidade local.
Mas bruxa como? Segundo uma das personagens, mais cedo ou mais tarde, toda mulher independente é rotulada como bruxa. Bom, então a maior parte de nós é bruxa, cara leitora. Mas fora isso, em um vilarejo cheio de pessoas supersticiosas e guiadas cegamente por uma religião que separa pessoas boas de ruins a partir de regras criadas há muitos mil anos, todo mundo é bruxa e vai pro inferno.
Voltando à querida Salomé e sua avó (Ester Catalão), que ensina a menina a fechar o corpo e se defender de espíritos malignos com água e sal, velas, rezas e cânticos, tudo poderia terminar perfeito neste verão na vida da menina, não fosse a morte repentina dessa senhora. Isso depois de ela ter feito profecias e falado sobre a possibilidade de ter sido morta por outra bruxa.
E nessa batalha entre o bem e o mal das verdades absolutas dessa comunidade, a pequena Salomé acaba entrando em um transe e vivendo o que a avó pregava. Para nosso desespero como espectadores, mas também deleite, pois acompanhamos o desenrolar das histórias dessa família, do vilarejo, da menina, em um cenário rural assombroso, maravilhoso, complicado, estranho, e me faltam adjetivos ainda pra descrever a aventura que foi assistir esse filme.
E quando falo aventura, não digo que você, caro leitor, vaipresenciar cenas de perseguição ou fantasia: na verdade, você vai apenas acompanhar o luto de Salomé e como ela trabalha isso levando em consideração o legado deixado pela avó. Um filme duro, real, que me fez muito pensar no cinema brasileiro. Vale a pena conferir esse longa, primeiro trabalho da diretora Cristèle Alves Meira, que possivelmente vai ser o candidato de Portugal ao Oscar 🤩