Cada diretor (dos mais talentosos) tem sua marca pessoal. Christopher Nolan (da trilogia Batman, A Origem e Interestelar) não é diferente e ouso dizer que é o mais autoral do cinema pipocão atual.
Com Dunkirk Nolan faz a versão cinematográfica definitiva do resgate das tropas inglesas na praia que dá título ao filme, assim como Steven Spielberg fez com a Normandia em O Resgate do Soldado Ryan e Clint Eastwood fez com Iwo Jima em A Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima.
O filme acompanha a Operação Dínamo, mais conhecida como a Evacuação de Dunkirk. Soldados aliados da Bélgica, do Império Britânico e da França são rodeados pelo exército alemão e devem ser resgatados durante uma feroz batalha no início da Segunda Guerra Mundial. A história acompanha três momentos distintos: uma hora de confronto no céu, onde o piloto Farrier (Tom Hardy) precisa destruir um avião inimigo, um dia inteiro em alto mar, onde o civil britânico Dawson (Mark Rylance) leva seu barco de passeio para ajudar a resgatar o exército de seu país, e uma semana na praia, onde o jovem soldado Tommy (Fionn Whitehead) busca escapar a qualquer preço.
Nolan acerta ao se mostrar interessado apenas no lado humano da história, subvertendo a situação para mostrar um heroísmo no resgate histórico. E acerta mais uma vez ao fazer da sua câmera uma espécie de câmera documental enquanto fragmenta a história em três frentes: terra, mar e ar.
Se um diretor qualquer se apropriasse dessa história para contá-la, Dunkirk seria apenas mais um filme de guerra normal. Mas estamos falando do diretor que nos colocou dentro de três sonhos, um dentro do outro, em A Origem, portanto a abordagem das três frentes faz todo o diferencial no filme. Nolan aborda de forma intrincada, mas não simultânea os acontecimentos que respingam de uma frente na outra, mas sem que o espectador se perca no que ele está querendo contar.
As praias de Dunkirk, como retratadas no filme (e nesta bela cena em plano-sequência de Desejo e Reparação) são a representação do inferno na terra. Uma zona de perigo constante onde os soldados estão expostos aos ataques – e onde o destino força que alguns personagens retornem o tempo todo (como se a praia exercesse uma espécie de campo de atração maligno – quando os soldados estão escapando, a maré parece os puxar de volta).
E essa nuance é a grande maravilha de Dunkirk: Nolan aumenta a tensão e o heroísmo e o faz de uma forma tão simples que faz o longa parecer uma espécie de documentário, com um design de som e uma trilha impecáveis. Dunkirk é uma experiência imersiva e é exatamente isso que o público espera de um filme do diretor.