Elle

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Isabelle Huppert arrasa mais uma vez ao fazer uma mulher que sofre uma violência sexual e astuciosamente tenta descobrir quem é o culpado em "Elle"

Paul Verhoeven nunca deixa de nos surpreender. Para quem lembra, foi ele o responsável pela cruzada de pernas mais célebre do cinema, com Sharon Stone em Instinto Selvagem, e também pelo primeiro (e único na minha mente) Robocop, aquele filme super violento e sanguinolento que passava na Sessão da Tarde nos anos 90. Há inúmeros outros filmes clássicos de Verhoeven, o mestre do suspense erótico que volta a brilhar com Elle, o escolhido da França a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2017.

Baseado no livro Oh, de Philippe Djian, Elle conta a história – moralmente controversa – de Michèle LeBlanc (Isabelle Huppert), uma mulher de cerca de 60 anos bem sucedida em seu trabalho, como diretora criativa de games, que é brutalmente estuprada em sua casa. Em um filme típico, isso daria vazão a uma busca incessante pelo criminoso, esquecendo de tudo e todos no meio do caminho. Mas somos surpreendidos por uma aparente indiferença inicial quanto ao ocorrido, pois Michèle não conta a ninguém, não chama a polícia, nada. Oras, cá estamos nós já julgando a vítima. É evidente que a violência gerou um trauma na protagonista, pois ela começa a reencenar em sua cabeça como poderia ter agido de forma diferente, lutado mais pela sua integridade física. Torna-se clara desde então a intenção de polemizar o assunto.

Michèle não apresenta sinais de ter sido afetada ao redor de seus entes queridos, mas na surdina está buscando quem cometeu o ato abominável. A busca é impulsionada também pelas mensagens lascivas e de péssimo gosto que este monstro manda para a vítima. Michèle tem uma seleção de admiradores, homens que por ela nutre desde amor platônico a amor e/ou tesão recíproco, o que a ajuda a identificar possíveis candidatos ao crime. Por outro lado, não é uma mulher com muitos amigos, por onde passa deixa um rastro de inveja ou ódio, e trata a mãe de forma deplorável. Descobrimos logo que isso se deve ao passado de seu pai que a persegue há muitos anos através do julgamento público.

Elle é um filme complicado. Se por um lado é questionável a escolha do diretor em fazer uma vítima de estupro se portar como menos fragilizada e vitimizada, o que é inconcebível pensar pois – oi – ela é a vítima sim, senhor, por outro reagimos ao filme com tamanha estranheza e incompreensão dos atos de seus personagens que me leva a crer que a intenção era estudar comportamentos fora do lugar-comum. Talvez Verhoeven esteja testando nossas reações, talvez seja um diretor extremamente misógino. Cabe a você ir ao cinema e julgar. Mas não deixe de ver, porque Elle é eletrizante, como o bom cinema francês o é.

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