Espiral

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"Espiral": Memórias, afetos e o tempo em movimento

Idealizado e dirigido por Leonardo Peixoto, Espiral é uma produção que se debruça sobre o entrelaçamento entre memória, identidade e história social, tendo como pano de fundo a indústria calçadista de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, uma das mais importantes do país. Coproduzido por três produtoras gaúchas (Bactéria Filmes, Convergência Produtora e Sala Filmes), o filme surge como uma reflexão sobre o modo como o trabalho, a tradição e as relações afetivas moldam a experiência humana. Ao longo da narrativa, revelam-se tanto as mudanças quanto as permanências que marcam a vida de uma família e, por extensão, de toda uma comunidade.

A trama acompanha o casal Luiz e Vilma Barros, empresários do ramo calçadista, e sua família ao longo de quatro décadas. Entrelaçando diferentes tempos, dos anos 1980 à atualidade, o filme revela o percurso de uma geração que viveu o auge e o declínio de um modo de vida ligado ao trabalho industrial no ramo calçadista. As conquistas, tensões e afetos do casal e seus dois filhos se confundem com as transformações sociais e econômicas de Novo Hamburgo.

A estrutura narrativa é, talvez, o elemento mais interessante da obra. A opção por apresentar personagens em diferentes idades convivendo nas mesmas cenas, numa espécie de sobreposição temporal, aproxima o público das diversas camadas de memória que compõem o enredo. Essa construção dá concretude à ideia de espiral, de um movimento contínuo de retorno e transformação. Em vez de um círculo fechado, o movimento espiralado avança, ainda que retorne constantemente a pontos familiares, dinâmica da memória e da história. No entanto, a ideia de espiral sugere uma complexidade que fica desproporcional ao desenvolvimento dramático do filme.

O espaço da mesa posta e dos almoços familiares assume o papel de eixo simbólico da narrativa. É em torno dela que os personagens expõem suas tensões, afetos e contradições. Esses encontros também evidenciam o desgaste das relações e o peso das transformações sociais que atravessam a cidade e o tempo.

Ao abordar o declínio de um modo de vida vinculado à indústria calçadista, símbolo de prosperidade e orgulho local, o filme espelha as transformações econômicas e culturais que atravessam o Brasil contemporâneo.

Ao articular a trajetória familiar à história da localidade, Leonardo Peixoto constrói uma narrativa de pertencimento e perda, uma homenagem a um passado que se dissolve, mas continua a reverberar nas novas gerações. O filme movimenta a comunidade de Novo Hamburgo e cumpre seu papel ao provocar identificação e reflexão.

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