Estranhas Cotoveladas

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"Estranhas Cotoveladas": Entre o teatro e a realidade

A proposta de Estranhas Cotoveladas é clara desde o início: trazer à tona o contraste entre duas formas de vida no interior paulista, representadas por personagens que transitam entre o agronegócio e a agricultura familiar. A protagonista, Ella, vive um dilema amoroso que também reflete um embate de valores e visões de mundo. No papel central, Eliandra Caon traz uma presença marcante, mas sua atuação – assim como a do restante do elenco – sofre com a artificialidade dos diálogos e da encenação.

O filme se apoia em um olhar nostálgico sobre o interior, algo que o diretor Reinaldo Volpato conhece bem, tendo escolhido Torre de Pedra como cenário por sua ligação pessoal com a cidade. Essa familiaridade se traduz em belas imagens da paisagem local, que servem como um respiro entre as cenas carregadas de discursos expositivos. No entanto, o longa não consegue transformar esse conhecimento em naturalidade, resultando em interações que soam excessivamente ensaiadas.

A trama romântica, que poderia ser o fio condutor para envolver o espectador, acaba sendo um dos aspectos mais problemáticos. O triângulo amoroso nunca convence completamente, tanto pela falta de química entre os personagens quanto pela superficialidade dos conflitos. As discussões sobre meio ambiente e economia rural, embora relevantes, são apresentadas de maneira didática, sem que o filme consiga integrá-las organicamente à narrativa.

É inegável que Estranhas Cotoveladas tem boas intenções. O cinema brasileiro realmente explora pouco o interior paulista como cenário e temática, e o esforço do filme em dar voz a esse universo merece reconhecimento. No entanto, há uma grande diferença entre representar uma cultura e apenas falar sobre ela. O roteiro parece preocupado em afirmar constantemente suas ideias, mas não confia o suficiente na força das imagens e dos personagens para que essas reflexões surjam de forma mais fluida.

A teatralidade excessiva prejudica a imersão, e a falta de experiência do elenco e da direção pesa na condução do longa. As atuações parecem sempre conscientes demais da câmera, e os diálogos não fluem com a naturalidade necessária para que o espectador se conecte emocionalmente com a história. O resultado é um filme que tenta abraçar discussões importantes, mas esbarra na falta de espontaneidade e maturidade narrativa.

Mesmo com esses problemas, Estranhas Cotoveladas pode encontrar seu público entre aqueles que valorizam produções regionais e um olhar diferenciado sobre o interior do Brasil. Como um primeiro passo para um cinema que dialogue mais diretamente com essa realidade, a iniciativa é válida. Porém, para se tornar um retrato mais autêntico e envolvente, falta ao filme a confiança de deixar a vida acontecer diante das câmeras, sem que tudo pareça tão planejado.

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