Grandes Olhos

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Bom, se você é como eu e associa o nome “Tim Burton” a tudo que é macabro, estranho, obscuro, você vai estranhar seu novo filme, Grandes Olhos. Por quê? Bom, a história da artista Margaret Keane, conhecida por suas pinturas de crianças com olhos desproporcionalmente grandes, não é nem um pouco fantástica, como Alice no País das Maravilhas, ou Frankenweenie. Mas é baseada em fatos reais (já gostou, né?) e até que dá um bom caldo.
Começamos o filme com Margaret (Amy Adams) fugindo com a filha, tentando refazer a vida longe de um marido que não deve ser muito gente boa. Você entenderia que ela aprendeu sua lição, e vai desconfiar um pouco mais de homens da próxima vez, mas aí Walter Keane (Christoph Waltz) cruza seu caminho, eles se casam, ele é bom de papo, ótimo homem de negócios, e descobre que as pinturas de crianças de olhos grandes de sua esposa são vendáveis. Só que ao invés de dar suporte à esposa, ele se apropria de suas obras e fica famoso às suas custas.
Deixa eu voltar um pouco: estamos na década de 1950/60, gente. Bom, isso deve explicar porque Margaret não botou um fim à farsa, ou melhor, não impediu que ela começasse, forchristsake! Uma mulher cheia de talento coagida pelo marido. Já ouviu a história antes, né? E Amy Adams interpreta muito bem a mulher ingênua, que se torna a esposa submissa devido ao eterno medo (medo de perder a filha, medo de ir para a cadeia, medo de…), sofrendo ameaças constantes do marido espertalhão. E a agonia da personagem é palpável, e tem horas que fica até difícil de assistir ao filme. Me dava nó no estômago, e eu ficava repetindo o tempo todo pra mim mesma, “por que ela não dá o fora?”, “por que ela não conta pra todo mundo?”. Mas é este suspense, em meio a todo o drama, que faz você ficar pra ver como isso vai acabar.
Uma das falhas do filme é que não temos uma visão mais profunda da vida de nenhum dos personagens. Sabemos do sofrimento da Margaret, mas em nenhum momento sabemos mais sobre ela, nem sobre seu insuportável marido (e tenho que dizer que achei a atuação do Waltz meio caricata), a filha da Margaret aparece e desaparece como se fosse algo descartável (apesar de a Margaret repetir que ela é muito importante em sua vida), e Jason Schwartzman faz um papel tão pequeno que era melhor se ele nem tivesse participado do filme.
Como falei lá no começo, não é o típico filme de Tim Burton. Na verdade, estava esperando alguma coisa fantástica, ou sombria, pipocar a qualquer momento, mas o máximo que ganhei foi a protagonista vendo seus grandes olhos nas pessoas em um mercado. Blah. Bem que ele podia ter ido mais longe. Mas a direção de arte está incrível (aí sim é o velho Burton de guerra e sua equipe), com cenas incríveis de mercados com prateleiras repletas de sopas Campbell’s, e bares cheios de fumaça, mulheres com vestidos lindíssimos e carros passeando pelas ruas de São Francisco. Por alguns momentos até pensei estar em um filme de Hitchcock.
Parecer? Vai, vai ver. Vale a pena, sim. O filme não é nenhum Tim Burton, assim como Keane não é nenhum Picasso, mas o filme é bom.

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