Seja como produtor, ator, roteirista ou diretor, Tom Hanks já demonstrou profunda admiração pela coragem dos combatentes das Forças Armadas na Segunda Guerra Mundial. Os projetos são variados e vão desde o oscarizado O Resgate do Soldado Ryan até as séries Band of Brothers e The Pacific, além da inédita Masters of the Air. Além disso, a bravura e heroísmo americanos também foram o fio condutor em muitos de seus papéis. Por isso, não é com surpresa que vemos o talentoso ator adaptando e estrelando uma versão do romance de 1955, O Bom Pastor.
Reclame se você queria novidade, mas Greyhound: Na Mira do Inimigo não é isso. É um retorno de Hanks a um território familiar, em um thriller de ação tenso e bastante linear naquilo que se propõe.
Na trama, programada para chegar aos cinemas em Junho, mas liberado agora pela Apple TV+ devido ao COVID-19, o comboio internacional de 37 navios aliados liderado pelo capitão Ernest Krause (Hanks), que comanda seu primeiro destróier norte-americano, atravessa o temido Atlântico Norte e precisa enfrentar a perseguição por matilhas de submarinos nazistas. Pronto! Nada de novo no front. Mas é aí que o filme sai ganhando.
Aaron Schneider, diretor do longa, assim como Hanks, não é novo no que se relaciona à Segunda Guerra Mundial. Ele ganhou um Oscar pelo curta-metragem Dois Soldados, em 2003, um drama caseiro sobre dois irmãos cujo espírito patriótico é trazido à tona pelo choque de Pearl Harbor. Schneider e Hanks constroem um entretenimento coeso e de tirar o fôlego em diversos momentos (mérito também da trilha sonora, que lembra muito os trabalhos de Hans Zimmer, e cria o clima de tensão com acordes específicos para cada vez que submarinos vem à tona).
Esta é uma das performances recentes mais moderadas de Hanks, quase o oposto ao que vimos em Capitão Phillips ou The Post – A Guerra Secreta, por exemplo. E como roteirista, ele acerta ao concentrar-se quase que exclusivamente na travessia infernal que o comboio precisava travar em meio ao Atlântico Norte. Confesso que esperava praticamente um Sully – O Herói do Rio Hudson em um barco, mas fui surpreendido.
Não temos três frentes diferentes, como em Dunkirk, de Christopher Nolan, mas ainda assim o filme te prende à poltrona através da travessia traiçoeira que irá durar 3 dias. E mesmo eliminando as histórias pessoais de seus personagens – além dos breves flashes de memória do personagem de Hanks (que são contidos apenas ao seu último encontro com seu interesse romântico) – o filme ainda te faz torcer por aqueles homens.
Rodado em um contratorpedeiro da Segunda Guerra restaurado e desativado no rio Mississippi, a ação se passa basicamente na cabine do piloto e na ponte de comando do navio, recriados em estúdio, mas que se encaixam perfeitamente bem com o cenário das batalhas convincentes em alto mar criadas inteiramente por computação gráfica.
Como foi lutar na Segunda Guerra? Ainda bem, nunca saberemos. Mas Greyhound: Na Mira do Inimigo busca veracidade no extrato da história que almeja contar. E consegue! Triste é saber que 3.500 navios transportando milhões de toneladas de cargas e 72.200 almas foram perdidas no mesmo trajeto durante os 6 anos que fizeram essa travessia durante a Guerra.