Como não gostar de uma boa sociopata? Em Irrepreensível, estreia de Sébastien Marnier na direção de longas, ele conta a história de Constance, uma mulher obsessiva que te lembra um pouco Atração Fatal, que quer apenas o seu antigo emprego de volta, junto com seu antigo caso de amor. Custe o que custar!
Com sua blusa Versace e uma tintura loira malfeita em seu cabelo, Constance parece muito uma provinciana arrogante em Paris, que é basicamente o que ela foi nos seus últimos anos. Mas quando ela perde seu emprego no setor imobiliário e fica totalmente sem dinheiro, precisa voltar para a sua terra natal sob o pretexto de cuidar de sua mãe. Ao chegar na província ela quer, com todas as forças, que duas coisas aconteçam: ela quer reatar com seu ex-namorado e colega Philippe para que ele use seu poder de persuasão com o ex-chefe dela, Alain, e assim lhe devolva seu antigo trabalho na agência imobiliária da cidadezinha.
Não que ela ainda esteja emocionalmente envolvida com Philippe – ela passa mais tempo em encontros sexuais com um homem de negócios que ela conhece no caminho para a cidade pequena. É mais porque ela precisa de dinheiro ou vai se alimentar apenas com as comidas enlatadas que encontra na despensa da casa da sua mãe. Mas é quando ela descobre que Alain contratou a jovem e bela Audrey que seu comportamento suspeito vai fazer o trabalho para tirar a menina do seu caminho.
Mesmo que já tenhamos visto tudo isto antes, há algo no comportamento de Constance e sua falta de limites que nos deixa tão fascinados por Irrepreensível. Constance é um ser humano horrível, mas um estudo de caso hipnotizante e com a interpretação de Marina Foïs (Relacionamento à Francesa) vamos nos envolvendo com a trama criada pela personagem. Ela vai do cyberstalking a um regime fanático de treinos fitness com Audrey, apenas para achar uma maneira de boicotar a garota e tirá-la do seu caminho de uma vez por todas.
Foïs interpreta a personagem cheia de camadas e com uma energia implacável e faz o contraste perfeito com a credulidade de Audrey (Joséphine Japy, de Respire) e a amabilidade de Philippe (Jéremie Elkaïm, de A Guerra Está Declarada), em uma cidadezinha bonita e ensolarada e destoante de um comportamento tão perverso.
A verdade é que Irrepreensível vai te deixar com um mal-estar bem-vindo mesmo antes que haja uma razão real para que você se sinta assim. E vale se perguntar se temos alguém como Constance por perto e nem sabemos. É esperar que não!