Joy é um relato tocante e intimista sobre a jornada por trás do nascimento da fertilização in vitro, um avanço científico que mudou vidas ao redor do mundo. Dirigido por Ben Taylor e escrito por Jack Thorne, o filme captura os desafios e as vitórias do trio de pesquisadores que enfrentaram o ceticismo generalizado para possibilitar a chegada de Louise Joy Brown, o primeiro bebê concebido através do procedimento.
Com um elenco de peso, o filme se destaca pela abordagem humana e pelo equilíbrio entre a emoção e a ciência. Thomasin McKenzie brilha como Jean Purdy, a dedicada enfermeira e embriologista que é o coração do grupo. Sua performance traz nuances que evidenciam a força e a vulnerabilidade da personagem, especialmente em momentos que exploram o conflito entre seu trabalho pioneiro e os cuidados com sua mãe doente (interpretada com sensibilidade por Joanna Scanlan).
Bill Nighy, como o obstetra Patrick Steptoe, e James Norton, como o cientista Robert Edwards, completam o trio de protagonistas com uma química natural e envolvente. Nighy entrega uma performance elegante e discreta, enquanto Norton traz uma energia impetuosa ao papel do visionário cientista. O trio funciona quase como um “trisal” científico, cujas diferenças complementares são essenciais para o sucesso de sua pesquisa.
Apesar de lidar com temas técnicos, Joy nunca perde o foco nas pessoas e no impacto de seu trabalho. O filme evita o melodrama exagerado, mas introduz conflitos que humanizam os protagonistas, como a resistência religiosa e institucional enfrentada por Purdy. Há, claro, todo o preconceito e a desinformação, e isso reforça o peso dos obstáculos enfrentados pelo trio.
Embora a narrativa não explore plenamente a exclusão de Purdy dos créditos históricos, o filme honra seu legado ao colocá-la no centro da trama. Sua ausência nos registros oficiais ecoa o caso de Rosalind Franklin, outra pioneira subestimada, criando um paralelo histórico que adiciona profundidade ao drama.
Visualmente, o filme traz um charme inglês clássico, com paisagens bucólicas de Cambridge e cenas que refletem a vida simples e determinada de seus personagens. Contudo, o roteiro às vezes resvala no funcionalismo teatral, com diálogos que soam mais expositivos do que necessários. Ainda assim, essas escolhas são compensadas pela direção sólida e pelas performances cativantes.
Joy é mais do que um relato sobre um marco científico; é uma celebração da resiliência humana e da busca pelo progresso em meio à adversidade. Mesmo com suas limitações narrativas, o filme emociona e inspira, lembrando-nos que os maiores avanços vêm daqueles que se recusam a desistir, mesmo quando tudo está contra eles.