A Itália é conhecida como um país dos exageros, tanto no volume da voz quanto nas famosas expressões com as mãos. No cinema, a regra não foge muito, já que toda direção também prioriza por um certo exagero nos elementos gerais de suas histórias. É exemplo disso temos a comédia teatral Maravilhoso Boccaccio, filme dirigido pelos irmãos Taviani (César Deve Morrer), que resolveram adaptar a lendária obra italiana Decameron, escrita por Giovanni Boccaccio. Essa obra conta com 100 contos sobre o cotidiano italiano a partir de uma brincadeira entre os jovens que se escondem da peste negra em um castelo isolado. Esse clássico da literatura já teve várias adaptações, tanto para os palcos como para a TV e o cinema. A narrativa do Decameron vai além dos contos e atinge um cunho social e político, usando a encenação cômica para atingir assuntos como vício, mentira, falsidade, e tudo que a humanidade pode criar, como fortuna e amor. O filme que adapta essa linguagem do livro utiliza toda a matéria-prima de sua inspiração, começando da infestação da peste negra na Florença do século XIV e passando pelos enquadramentos que imitam quadros da época, pelos figurinos e até e pelas cores da direção de arte. Esses atributos visuais prestam homenagem a obra que surgiu em um dos momentos mais tristes da história italiana.
Esse paralelo é interessante, porque a arte no passado e também na era contemporânea prestam um serviço de registrar o que se viveu e o que se vive. Como tirar proveito dos acontecimentos senão com humor? Pois é, mas não estamos falando de gargalhadas e risos, porque a situação não é favorável para isso, mas sim de consciência narrativa que atravessa o tempo e que precisa ser compreendido através de uma análise mais histórica. Esse humor é trágico, seco e linear, ríspido e duro como a época foi, como outras obras literárias são.
A trilha sonora não faz nada a favor do filme, porque sua sugestão de urgência soa novamente exagerada e não combina com o que estamos vendo na tela, além de ser muito pontual e óbvia. Com isso não remete o clima desejado. As transições de cena estão ali por puro gosto ou falta dele já que não passam de quadro para algo que harmonize ou contraste com a tomada anterior, simplesmente combina cores e segue com algo diferente. A ambientação do longa também é bem teatral, mas é algo agradável e esperado numa produção dessas, assim como os filmes franceses que usam uma plástica de cores e cenários que parecem ter sido montados e preparados para se desmontar assim que o espetáculo acabar. Maravilhoso Boccaccio não é inovador, é mais uma contestação de lembrança a uma história tão icônica. Por isso, o interesse precisa ser muito forte ao procurar esse longa, que em muitos momentos provoca uns bocejos com tanta poesia que não comunica nada, apenas enche o tempo de duração com atuações que poderiam ser melhor dirigidas.