Memórias de um Esclerosado

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"Memórias de um Esclerosado": A criatividade como ato de resistência

Talvez um título um tanto quanto desconfortável faça começar a pensar sobre o assunto antes mesmo de começar a assistir tal documentário, ou seja, por si só já é questionador. Tal qual a pergunta desconfortável, pois é o tipo de situação que pode acontecer com qualquer um, aí o desconforto aumenta e aumenta ainda mais quando se cai na real que é progressiva e permanente, então vem o desconforto total.

Então realmente a melhor atitude é silenciar a mente e observar com muita atenção o que o premiado Rafael Corrêa quer nos apresentar, e automaticamente aquele desconforto inicial vai passando aos poucos, afinal é algo tão específico falar e conduzir o roteiro de acordo com seu dia a dia atual, mas analisando em vida carreira e história do que foi até tal ponto de quando a doença foi tomando conta e fazendo parte do seu dia a dia.

Realmente dá gosto ver o trabalho que um criativo pode fazer, Rafael tão acostumado a criar histórias, inventar personagens através de muita observação e experimentação faz essa jornada de um momento tão pesado se tornar mais humana, mas nada sensacionalista ou vitimizada na tela.

Como é interessante entender suas reflexões de infância e adolescência que fazem questionar e até responder o motivo que o leva a ter tal doença, e de como ele consegue através das tiras e de filmes antigos de VHS transformar o que poderia parecer tosco em uma obra tão tocante e com a cara e a inovação do cinema gaúcho, talvez já esteja na cultura do dia a dia essa liberdade imaginativa dos confins do Brasil.

Misturas assim precisam ser muito bem feitas, para não ficarem fracas e com pouca ou nenhuma análise. Mas Memórias de um Esclerosado entrega um diário de vida muito intenso, bem de acordo com o que ele está sentindo e é extremamente gentil com o público, pois permite na verdade um grande agradecimento de ver a vida de Rafael partilhada e entregue de maneira tão densa. Vale cada minuto.

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