Mercador das Selvas

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"Mercador das Selvas": a odisseia africana sob as lentes da controvérsia

Mercador das Selvas, dirigido por W. S. Van Dyke em 1931, é um filme que ecoa uma era cinematográfica de exploração audaciosa e desafios épicos, baseado na biografia de Alfred Aloysius “Trader” Horn escrita por ele e Ethelreda Lewis. Este clássico de aventuras detém o título de ser o primeiro filme sonoro e não documental a ser rodado na África, marcando uma façanha notável na história do cinema.

A narrativa, ambientada nas vastidões africanas, testemunha a tenacidade da equipe de produção, que enfrentou inúmeros desafios e tragédias durante os sete meses de filmagem. Desde acidentes fatais, como a morte de um garoto nativo e um encontro quase fatal com um rinoceronte, até a contratação da malária por parte da atriz Edwina Booth, o processo de criação do filme foi marcado por eventos trágicos.

Irving Thalberg, o produtor, ao revisar o material inicial, percebeu a necessidade de uma revisão significativa. Ele regravou diálogos, refilmou cenas no estúdio e adicionou novas sequências filmadas no México. O processo prolongado e desafiador culminou em um filme que incorpora uma mistura única de autenticidade e dramatização, enquanto também levanta questões éticas sobre os métodos utilizados na produção.

O sucesso comercial e o reconhecimento da Academia, com uma indicação ao Oscar de Melhor Filme, atestam a resiliência de Thalberg e da equipe diante de adversidades extraordinárias. Mercador das Selvas capturou a imaginação do público da época, proporcionando uma experiência cinematográfica exótica e empolgante.

No entanto, olhando para trás, é inevitável considerar as representações datadas e as controvérsias éticas que envolveram a produção. A exploração da natureza e da cultura africanas, sob a lente de uma Hollywood em crescimento, reflete visões simplificadas e, por vezes, problemáticas, que podem desafiar as sensibilidades do público atual.

Cenas não utilizadas do filme, posteriormente incorporadas em Tarzan, o Filho das Selvas (1932), indicam a importância do material filmado, mesmo quando reinterpretado para uma outra produção. A história de Mercador das Selvas ecoou décadas depois, quando a MGM refilmou a narrativa em 1973, evidenciando a duradoura fascinação por essas aventuras africanas.

Assim, Mercador das Selvas permanece um testemunho ambíguo da era do cinema clássico, destacando não apenas a conquista cinematográfica, mas também as complexidades éticas e culturais que permearam a produção. Assistir a este filme é, portanto, não apenas embarcar em uma jornada africana, mas também explorar as intrincadas camadas da história cinematográfica e suas ramificações na contemporaneidade.

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