O documentário Moacyr Luz, o Embaixador Dessa Cidade, dirigido por Tarsilla Alves, se propõe a celebrar a trajetória de um dos grandes nomes do samba contemporâneo. A obra mergulha na vida do compositor com um olhar afetivo, revelando não apenas sua importância musical, mas também a forma como sua presença se entrelaça com a própria identidade cultural do Rio de Janeiro. É um filme que valoriza o homem boêmio, o cronista de botequins e o líder de rodas de samba, figuras que Moacyr encarna de maneira natural.
A escolha de estruturar a narrativa acompanhando a rotina do artista é interessante, mas acaba por ressaltar tanto os acertos quanto as fragilidades do longa. Entre bares, encontros e conversas, vemos o carisma de Moacyr preencher a tela, cercado de amigos ilustres como Zeca Pagodinho, Maria Bethânia e Fafá de Belém. Esse mosaico de depoimentos reforça a dimensão de sua obra, mas muitas vezes aparece de forma dispersa, sem a contextualização necessária para que o espectador compreenda plenamente a relação de cada convidado com o homenageado.
O ponto alto do filme é justamente Moacyr Luz. Sua presença, sua naturalidade diante das câmeras e sua capacidade de transformar cada bar em extensão de sua casa sustentam o documentário. É fácil se deixar levar pela sensação de que estamos participando de uma conversa descontraída, embalados por vinho, cerveja e, claro, samba. Nesse aspecto, a diretora acerta ao permitir que a personalidade do compositor seja a principal força narrativa.
Por outro lado, a direção demonstra certa dependência excessiva dessa figura central. A ausência de um fio condutor mais sólido enfraquece a narrativa, fazendo com que momentos valiosos pareçam soltos no meio de registros aleatórios. Ainda que tente organizar a jornada, o resultado transmite mais a ideia de um passeio sem rumo do que de uma construção documental coesa.
Há, no entanto, momentos de grande emoção, como o registro do primeiro samba-enredo de Moacyr na Mangueira, que adiciona um peso histórico ao filme. Nesses instantes, o documentário se aproxima da força que poderia ter mantido ao longo de toda a obra. Quando conecta a história individual do artista a marcos significativos do samba carioca, a obra alcança seu propósito de ser um testemunho relevante da cultura brasileira.
O maior mérito de Moacyr Luz, o Embaixador Dessa Cidade é conseguir transmitir o afeto que o artista desperta. Mesmo com limitações físicas, ele surge em cena com vigor, rodeado de gente que o admira e celebra sua trajetória. Essa energia afetiva faz com que o espectador, apesar das falhas narrativas, permaneça envolvido até a roda de samba final, que simboliza não só sua liderança, mas também a comunhão que sua música proporciona.
No fim, o filme funciona como uma homenagem calorosa, mas que carece de maior equilíbrio entre emoção e estrutura. Como conversa de botequim, diverte e acolhe. Como documentário, poderia ser mais consistente. Ainda assim, cumpre o papel de registrar a presença de Moacyr Luz como verdadeiro embaixador de sua cidade, reforçando sua importância para a memória cultural do país.