A trajetória da Mulher Maravilha da Gal Gadot, que começou em Batman vs. Superman, teve uma evolução muito clara nas telas. De elemento surpresa num filme evento à inocente e otimista Diana do primeiro filme que conquistou o mundo de vez, a personagem se tornou um símbolo de bondade, amor, superação, heroísmo e tantas outras coisas com uma mensagem simples e clara. E é com todos os esforços voltados para um discurso simples, que Mulher Maravilha 1984 expande ainda mais o legado da heroína para uma audiência maior.
Dessa vez, o filme esquece as guerras cinzentas, cenários grandiosos e grandes explosões, que geralmente tomam conta de filmes de super-heróis, e nos leva para o futuro dos anos 80, onde a ação acontece no shopping, nas ruas da cidade, nos laboratórios, academias de ginástica e estradas. Mais colorido e dinâmico, o filme não esconde o que é em nenhum momento e esse é um alívio enorme porque o roteiro não se apega a reviravoltas mirabolantes para prender a atenção e também as cenas mais aceleradas tem sua hora certa para acontecer junto com a tensão que se instala na trama. Ficou claro que a preocupação com a história é mais importante que o espetáculo.
MM84 se desenrola num ritmo coerente e todos os personagens se beneficiam disso com bom tempo de tela. A conexão com todos eles é imediata, até para os que torceram o nariz para a escalação de Kristen Wiig como Cheetah, podem facilmente se render a sua gênese e seu visual poderoso. O retorno de Chris Pine como Steve Trevor é resolvido e explicado da melhor forma e é o elemento que desafia Gal Gadot como atriz em cenas importantes da trama. É interessante ver que a heroína título ainda não é conhecida pelo mundo e nem chamada de Mulher Maravilha, sendo vista como um vulto, uma entidade salvadora e misteriosa, já o vilão Max Lord, interpretado pelo brilhante Pedro Pascal, é chamado pelo nome quantas vezes forem necessárias e essa escolha não é à toa. Seu papel é imprescindível na construção da mensagem total do filme, além de roubar a cena inúmeras vezes.
A diretora Patty Jenkins, que também assina o roteiro com Geoff Johns, conseguiu um feito que pouco se alcança em filmes tão grandiosos e aguardados como esse, inserindo ainda as melhores referências do próprio universo da DC e reimaginando origens clássicas, como da armadura dourada das HQs do Reino do Amanhã e principalmente o motivo para o seu uso no longa. Enquanto o primeiro filme nos trazia o amor como palavra-chave, nesse filme ele trás a verdade como maior elemento até para o desfecho inesperado de seus vilões, fazendo valer a humanidade em tempos difíceis e colocando em xeque o papel de cada ser humano para o bem global. É um filme que marca história por conta de um ano complicado mundialmente e que estreia junto com a reabertura de algumas salas de cinema para levar uma aventura engraçada, graciosa, empolgante e emocionante para todas as pessoas de todas as idades, rompendo qualquer barreira de época.