Os primeiros meses do ano costumam ser um prato cheio para cinéfilos, premiações como Globo de Ouro e Oscar chamam a atenção. Mas nem só de grandes filmes vive o mercado cinematográfico, pelo contrário, outros como a famosa Framboesa de Ouro, premiam as piores produções do ano. No Brasil, nada seria tão justo que além dos excelentes Festival de Brasília ou Cine PE, houvesse uma constatação premiada das produções mais esdrúxulas de cinema-televisão feito por aqui. Provavelmente, filmes como “Muita Calma Nessa 2”, do diretor Felipe Joffily, seria indicado em todas as categorias que enquadram produções que gastam milhões de reais, conseguem patrocínios exorbitantes de grandes empresas e entregam de bandeja ao espectador enredos que são basicamente extensões de capítulos ruins da teledramaturgia praticada pela globo no seu horário menos nobre.
“Muita Calma Nessa 2” sofre da terrível insistência de se alimentar personagens rasos em enredos medianos com tentativas de se criar um gênero de pseudo-comédia. Assim como no primeiro filme, quatro amigas tentam fugir de suas vidas rotineiras ou com acontecimentos que recém mudaram suas vidas, para “curtir” muito e encontrar respostas que possam direcionar o seu futuro. As protagonistas tem seus próprios temperamentos e estilos, talvez uma tentativa bem frustrada de se criar uma pluralidade de personagens. O cenário – claro, como em toda novela global – é o Rio de Janeiro, sempre belo, de classe média ou classe média alta, e para fechar, os coadjuvantes são todos personagens bem caricatos e que irão envolver as protagonistas em aventuras que, supostamente, irão modificar as suas vidas.
Há quem diga que “Muita Calma Nessa 2” é apenas um filme para entreter, comer uma pipoquinha no cinema e soltar algumas risadas descompromissadas. Estranho é pensar que o espectador que vai ao cinema no fim de semana, justamente entreter-se com um filme, goste de ser atingido por uma chuva de piadinhas que usem ele como objeto de graça. Personagens como o cantor Renan – ridicularmente e claramente inspirado no cantor de sertanejo universitário Michel Teló – que canta contando suas diversões em fazer sexo com fãs dentro de uma vã ou ainda uma banda chamada Los Cunhados, em que membros da banda usam barba falsa porque “as fãs adoram barbas” são apenas detalhes em um emaranhado de personagens fracos e sem graça.
Existe um problema bem claro quando se trata do cinema comercial brasileiro, a falta de discernimento entre TV e Cinema, duas linhas audiovisuais com um precípicio sem eco no meio. Sim, “cinema comercial”, na última década basicamente produzido com o dedo da Globo Filmes, um braço da conhecida Organizações Globo, que faz história da teledramaturgia brasileira. Quem nunca assistiu uma novela da rede Globo, que atire a primeira pedra. Nada contra as produções para TV, acredito que muita gente percebe que quando eles querem produzir algo realmente interessante, nada pode escapar. Como não lembrar de séries – que podiam muito bem andar perto de produções para cinema – dirigidas por Luiz Fernando Carvalho como “Capitu” e “A Pedra do Reino”?
O que a Globo Filmes faz hoje no cinema brasileiro é simplesmente mostrar que tem poder econômico e contratar um time de pessoas que estão fazendo sucesso na internet e TV brasileira. Em “Muita Calma Nessa 2” além do time de atrizes globais, com pouco carisma, o elenco conta com Helio de La Peña, talvez um dos poucos bons atores que sobraram do “Casseta e Planeta” e que arranca umas cenas engraçadas no longa, ainda tem o veterano Bruno Mazzeo. Outros como Marcelo Adnet, Marcelo Tas e outros conhecidos pelo canal do youtube “Porta dos Fundos”, basicamente sofrem do que todos os comediantes que saem de programas da TV paga/internet, acabam se tornando mais um mero comediante com piadas de gosto duvidoso em um roteiro ruim. E nem vale a pena mencionar participações da banda Jota Quest – que parece ter apenas uma música envolvendo macacos e galhos – e piadinhas com fãs da banda Chiclete com Banana.
Desculpe, mas não deu para rir em “Muita Calma Nessa 2”. Não deu nem para se indignar, afinal não é nenhuma novidade que esse gênero de filme continue sendo produzido, levando o rótulo de “Cinema Nacional” e ganhando milhões de reais nas salas de cinemas cada vez mais caras e com uma programação cada vez mais escassa e leviana. A Globo Filmes não representa o Cinema Brasileiro. Afinal, Cinema não é Novela.