Não Abra!

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"Não Abra!": um horror com toques de cultura Hindu

Habitantes dos cantos escuros dos porões mais sinistros das casas abandonadas, sejam muito bem-vindos a mais um horror.

Desesperada para se encaixar na escola, Sam (Megan Suri) rejeita sua cultura e a família Indiana para tentar se adaptar ao seu ambiente atual, e ser como todo mundo. No entanto, quando um espírito demoníaco mitológico se apega a sua ex-melhor amiga, ela entra em conflito com suas crenças atuais e deve aceitar sua origem para derrotá-lo.

Samidha é uma adolescente comum, que só quer ser ela mesma e encontrar seu lugar no mundo, batalhando um dia de cada vez, se não fosse é claro, por sua cultura e sua aparência. De origem Indiana, dentro de uma família conservadora, – principalmente por conta de sua mãe, Poorna (Neeru Bajwa), que é bastante apegada as crenças – a protagonista vive de forma antagônica em sua casa, pois em crise com seus valores culturais e morais, sempre entra em atrito com seus pais, e fora de sua casa, especialmente na escola, tenta se camuflar em meio ao estilo de vida Americano, sendo apenas mais uma garota comum, se enturmando, indo a festas, nutrindo amizades, o que com o tempo encontra certa dificuldade, devido ao comportamento errático e altamente estranho de sua ex-melhor amiga, Tamira (Mohana Krishnan), que descende da mesma cultura que ela.

Tudo se transforma e começa a descarrilar quando Tamira, – segurando um sinistro pote de vidro – tenta pedir ajuda a Sam e é rejeitada, sendo humilhada verbalmente pela ex-amiga, que destrói seu vasilhame. Nele, segundo Tamira, existia um demônio poderoso. Samidha tenta acalmar a sua ex-amiga, mas, o pote que jamais deveria ser aberto, não pode mais ser fechado, e Tam, completamente desesperada, corre por sua vida. Momentos depois, Sam sai em busca de ajuda, mas, ao retornar, percebe que Tamira havia desaparecido sem deixar vestígios, apenas mistérios.

Falando um pouco mais sobre o filme, e incluindo minhas impressões sobre a obra eu posso dizer que é um terror adolescente e de crescimento pessoal, que busca temperar ou apimentar o padrão genérico da obra com uma cultura pouco observada nas produções ocidentais, especialmente no horror mainstream.

O filme inicialmente é sobre uma adolescente que tenta se enturmar em seu convívio escolar, mas, que tem certa dificuldade em fazê-lo devido a certos aspectos de sua vida privada que sempre pairam no ar, a assombrando, e que a protagonista tenta sempre esconder, em busca de se tornar mais uma na multidão.

A protagonista vive uma boa vida com sua família encaixada e amorosa, no entanto, o que o filme nos apresenta é um conflito insistente entre a filha que busca distância de sua cultura e do resultado da própria visão que ela tem de sua família – padrão, e bem de vida, que tenta conciliar sua cultura de origem com o dia-a-dia de pais que criam um filho adolescente – com o foco do distanciamento principalmente em sua mãe, que é a mais conservadora, já que seu pai, Inesh (Vik Sahay), é mais leve e permissivo.

A cultura em questão é a Hindu, e a filha no esforço de se distanciar dos estereótipos, tenta se afastar de sua mãe conservadora, que deseja que ela seja mais participativa nos ritos e festividades, seja cozinhando com a mãe, testando o traje cultural, e participando da festividade junto a comunidade Hindu local.

A intenção da filha é fugir dos estereótipos, – e não ser vista como algo atípico ou especial por seus pares -, se mesclar na cultura americana, nem que para isso precise se afastar não só de suas raízes, mas, também de sua família e antigos amigos.

Já em outro momento do filme, temos a protagonista procurando entender o que acontece com ela, e sobre o desaparecimento de sua ex-amiga, é que Samidha passa a buscar mais sobre sua cultura, mas de forma relutante. E ao longo da produção isso vai se desenrolando até o ponto dela se reconectar com suas raízes e abraçar sua cultura, especialmente para que possa assim sobrepujar o mal.

Nesse ponto o título em português Não Abra! pode significar a não exposição de seus sentimentos, angústias e dores para o mundo, mantendo-os confinados em um frágil recipiente que dará muito mais trabalho de manter, do que de encarar seus demônios. O que nos leva ao título original It Lives Inside, e o que seria isso que vive dentro, seria nossa fragilidade, nossas perturbações, nossas inseguranças? Seriam então, desejos internalizados, que secretamente, e inconscientemente queremos ou necessitamos expor ao mundo? Tudo que expomos ao mundo torna-se algo que precisaremos lidar, seja no presente ou em alguma ocasião no futuro, e isso pode nos causar medo, desespero, mais insegurança, o que nos torna relutantes em tomarmos algumas decisões.

Seria então, o demônio na garrafa (pote de vidro), uma espécie de gênio da lâmpada totalmente distorcido, que de uma maneira cruel realizará tais desejos internalizados?

Apesar de eu ter extraído essas informações do filme, e achar ele muito bom por causa disso, alguns aspectos negativos me pegaram um pouco em minha experiência com ele. Como a falta de tempo de tela das relações familiares da protagonista, a não inclusão de alguns personagens, e a decisão por não explorar com maior profundidade o drama incutido na história. Pessoalmente, a maior valorização do drama fariam com que eu pudesse “saborear” muito melhor a obra. Além disso, percebi algo que parece ser um furo no roteiro, mas, que pretendo deixar em aberto para os mais observadores, mas, adiantando, que é em relação a protagonista e sua mãe.

No mais, esse é um filme que eu indico, devido a peculiaridade de trazer aspectos de uma outra cultura para o cinema de horror, o que me deixa bastante feliz, já que a inclusão com mais pluralidade abre as portas para que novas histórias sejam contadas, um número maior de mitologias e folclores sejam abordados, e mais pessoas possam participar e consumir o mundo do terror atual.

Curiosidades:

  • Segundo as fontes, o filme é inspirado em um momento real vivido pelo diretor Bishal Dutta, que ao visitar um amigo, conheceu a filha da família, que conversava com um pote vazio. E ao comentar sobre o pote, começou a escutar barulhos em sua casa durante a noite.
  • A obra aborda o Pishacha, uma entidade da cultura Hindu. Um ser maligno, um demônio que se alimenta da energia negativa e carne das suas vítimas.
  • É produzido por Raymond Mansfield e Sean Mckittrick, dupla que trabalhou junta, também como produtores, no aclamado filme Corra!.

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