Você está ao telefone, falando com a namorada, pedindo informações sobre como chegar na casa dela (que por acaso fica nos cafundós do judas). Ah, é de noite, claro. A rua está bem escura e deserta, claro. E de repente passa um carro devagarinho ao seu lado, tocando esta música (pula direto pra 33 segundos e ouça com atenção). 1) Você sai correndo, pois a música deu a deixa; 2) Você se debruça na janela abaixada do carro e pergunta se o motorista tem fósforos 3) Você fica e um maluco sai do carro, te atordoa e leva pra dentro do carro. Bom, nem preciso te perguntar como Corra!, o filme de terror mais aguardado do século, começa, né?
E é neste clima que você inicia o filme. Um crime acabou de acontecer, você ainda não está bem certo do que foi aquilo, mas logo esquece, pois logo entra uma sequência deliciosamente preguiçosa de cenas de um casal, com o fotógrafo Chris (Daniel Kaluuya) tomando banho e se barbeando, enquanto a namorada, Rose (Allison Williams), escolhe gostosuras para o café da manhã deles, na padaria. Tudo ao som desta canção (extremamente viciante hahaha). E eles são fofos, preparando um final de semana na casa dos pais dela. Ele se preocupa com questões raciais (ah, esqueci de mencionar, Chris é negro), ela diz que os pais votariam no Obama um terceiro termo. E parece tudo bem, apesar de Chris, que deve vivenciar o racismo na pele diariamente, não estar muito seguro disso.
Mas no caminho para a casa de campo eles sofrem um acidente estranho, e Chris sofre seu primeiro episódio de racismo (mas Rose defende ele – mesmo?), e depois disso parece que o final de semana do fotógrafo fica estranho a cada minuto que passa. Rose começa a se preocupar também com as percepções do namorado, até ser tarde demais.
Este é um filme extremamente complicado de se fazer uma resenha sem dar spoiler, então eu paro por aqui. Mas, enquanto você ouve a música mais sensacional do filme, vamos conversar sobre como este filme é incrível em diversos aspectos. Muitos aspectos. Comecemos por esta música que eu acabei de indicar pra você. O compositor, Michael Abels, usou inglês e suaíli, uma língua africana, para passar mensagens como “irmão, irmão”, “tome cuidado, algo está vindo, e não é bom”. E tem todos os aspectos raciais, que Chris sente na pele, primeiramente velado, depois bem tangível. Podemos falar sobre isso por semanas a fio e ainda ter assunto. Pra você ter uma ideia, assisti ao filme duas vezes. E na segunda vi diversas dicas do que estava por vir que não tinha notado. E acredito que se assistir uma terceira vez (e vou, já estou programando), vou encontrar outros detalhes. Incluindo as referências aos filmes de terror favoritos do diretor, como O Iluminado.
E falando no diretor, que deixei para mencionar o nome agora, para você sair desta resenha com o nome dele na cabeça, cara, ele é simplesmente incrível. Sim, Jordan Peele é genial. Construiu um filme incrível em tantos níveis que ainda estou tentando analisar muitos deles, ou seja, este é aquele tipo de filme que você fica saboreando semanas depois de assistir. Jordan Peele, um conhecido comediante americano, escreveu e dirigiu esta obra prima do terror, com muito humor negro, tensão e momentos de reflexão, só pra me deixar muito orgulhosa de escrever uma resenha de um filme de terror que é tão lindo e bem feito e amarradinho e com roteiro incrível e edição e trilha sonora… ufa! Jordan Peele, o primeiro diretor estreante de maior bilheteria da história, o primeiro cineasta negro fazendo 100 milhões de dólares com seu primeiro filme. Obrigada, Jordan Peele, que venham muitos outros iguais ❤
E você ainda está lendo esta resenha? Como assim? Sai daqui, corre lá comprar seu ingresso, uns 3 sacos de pipoca (doce embaixo – de chocolate – e salgada em cima), mais 2 litros de refrigerante, jujubas, minhocas atômicas, tudo! E vai assistir este filmão!