Não Olhe Para Cima

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A ironia do fim do mundo em “Não Olhe Para Cima”

Em Não Olhe Para Cima, Adam McKay usa o humor afiado e uma trama apocalíptica para oferecer uma crítica mordaz da sociedade moderna. Quando os astrônomos Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) descobrem um cometa em rota de colisão direta com a Terra, esperam que a revelação leve o mundo a tomar medidas para evitar o desastre. Mas, para sua surpresa e frustração, a reação de líderes políticos e da mídia é de descaso ou descrença, espelhando as respostas aos desafios reais que enfrentamos hoje.

O filme traz um elenco estelar que, sob a direção de McKay, abraça o absurdo da situação. Em um elenco que vai de Meryl Streep a Timothée Chalamet, cada ator personifica uma caricatura de figuras e arquétipos contemporâneos, todos claramente desenhados para representar a falta de seriedade e responsabilidade da sociedade diante de crises. DiCaprio e Lawrence formam uma dupla cativante, cada um com seu próprio tipo de nervosismo e desespero, que ilustra a difícil missão de tentar ser ouvido em um mundo saturado de ruído e distrações.

McKay emprega uma abordagem satírica feroz ao construir o personagem da Presidente Orlean (Streep), uma figura política egoísta e despreocupada, que, junto com seu filho e Chefe de Gabinete Jason (Jonah Hill), resume a mentalidade fútil e nepotista. Em uma crítica tanto ácida quanto hilariante, McKay parece mirar as figuras republicanas com precisão. Jason, com suas frases absurdas, representa um tipo de humor cínico e dolorosamente reconhecível.

Como os astrônomos não conseguem chamar atenção através de vias formais, eles partem para a mídia, onde encontram personagens como um bilionário excêntrico (Mark Rylance) e apresentadores de TV (Tyler Perry e Cate Blanchett) que se preocupam mais em manter o clima leve do que em explorar a gravidade da situação. A abordagem de McKay não apenas exagera o absurdo dessas figuras, mas mostra como as distrações e interesses fúteis tomam precedência sobre crises genuínas.

A atuação de DiCaprio destaca-se particularmente em uma cena de colapso, onde ele canaliza uma energia visceral que lembra a famosa cena de desabafo de Peter Finch em Rede de Intrigas. Lawrence, por outro lado, é a voz rebelde e inconformada, frequentemente frustrada pela falta de seriedade de todos ao seu redor. O contraste entre os dois personagens oferece uma perspectiva dupla de como cada um reage ao descrédito e ao caos ao redor.

Além da comédia e do absurdo, Não Olhe Para Cima aborda questões sérias sobre a ignorância humana e a incapacidade de agir coletivamente para enfrentar problemas existenciais. O filme questiona o quanto a mídia pode influenciar a percepção pública e o quanto estamos presos a uma mentalidade que prioriza o entretenimento e o lucro sobre a verdade. Mesmo com momentos que às vezes se estendem ou onde o humor não atinge todo o impacto desejado, McKay consegue capturar com eficácia o sentimento de impotência que acompanha muitos dos debates contemporâneos.

O final agridoce de Não Olhe Para Cima encerra a narrativa de forma impactante, destacando-se como uma das partes mais bem-sucedidas do filme. A cena final deixa uma impressão que fica com o espectador, questionando a validade das prioridades de nossa sociedade. Em uma era onde verdades inconvenientes são tratadas com ceticismo ou apatia, o filme termina com uma observação sombria sobre nossa relutância em enfrentar problemas urgentes.

Não Olhe Para Cima é uma sátira audaciosa e estrelada que aponta o lado trágico de uma sociedade obcecada com trivialidades e inconsequente diante de ameaças reais. Embora algumas piadas ou temas possam não ressoar com todos, o filme acerta o tom em capturar a insanidade e a irresponsabilidade do mundo moderno.

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