Ninguém Deseja a Noite

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"Ninguém Deseja a Noite" faz um estudo sonolento sobre a expedição ao ártico de Josephine Peary

Ninguém Deseja a Noite, afirma o título do último trabalho de Isabel Coixet (Minha Vida Sem Mim), mas o público pode muito bem sucumbir ao sono facilmente durante a projeção.

O retrato de Coixet para a árdua expedição da exploradora americana Josephine Peary é tão pálido dramaticamente quanto a neve que rodeia as personagens. Sobrecarregado com um falso romantismo que não complementa a visão semi-feminista da diretora, nem a presença de Juliette Binoche (O Paciente Inglês e Rinko Kikuchi (Círculo de Fogo) salva a produção.

O filme se passa na Groenlândia, em 1908. Josephine Peary (Binoche) é uma expedicionária que viaja ao Polo Norte em busca de seu marido, desbravador. Dona de fortes convicções sobre a vida e seu trabalho, ela muda por completo sua visão do mundo após um inesperado encontro com a esquimó Allaka (Kikuchi).

O filme se compromete como “inspirado em personagens reais”, a partir daí fala brevemente sobre a expedição final de Robert E. Peary para “descobrir” o Polo Norte, mas o ponto mais controverso desta bem-sucedida expedição, que é a subsequente batalha com seu rival pelos direitos de “se gabar” da descoberta, nem é citado propriamente na obra. Para Coixet, este lado da jornada não é importante e ela transforma o marido em uma presença invisível enquanto foca nos esforços de sua esposa para alcança-lo.

A segunda metade do longa é basicamente formada apenas pela relação desenvolvida por Josephine e Allaka a fim de encontrar uma maneira para sobreviver no inóspito ambiente em que elas se conhecem. Mas Allaka tem suas próprias razões para desejar encontrar Robert, o que faz o filme não passar no teste de Bechdel, apesar de parecer almejar isso.

Dada a falta de incidentes dramáticos na citada segunda metade, talvez a intenção de Coixet tenha sido estudar psicologicamente ambas as mulheres, mas nem o roteiro de Miguel Barros (Os Implacáveis) e nem os maneirismos melodramáticos da direção chegam perto de se aprofundar neste estudo ou de fazer o público se interessar pelo desfecho de ambas as mulheres.

A cinematografia de Jean-Claude Larrieu (Julieta) brilha em alguns momentos nos quais fotografa os belos cenários nevados, mas na grande maioria os Cinquenta Tons de Neve puxam muito para o cinza, na intenção falha de mostrar a crescente sensação de desespero de Josephine.

Ao enfrentar o inverno polar rigoroso, ambas as mulheres deveriam se transformar e perguntar se a jornada em busca da tal sombra de Robert E. Peary vale a pena. Para uma exploradora como Josephine, ao que parece, apesar de todas as adversidades que ela enfrenta, vale.

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