Há filmes que nos tocam pela grandiosidade e há outros que nos arrebatam pela verdade que carregam — Nó pertence ao segundo grupo. Dirigido por Laís Melo, o longa é uma crônica delicada e dolorosamente real sobre a força de uma mulher que insiste em permanecer de pé mesmo quando tudo à sua volta tenta fazê-la cair. Glória, interpretada com sensibilidade e vigor por Patrícia Saravy, é o centro de uma história que expõe as feridas abertas da vida, mas também os fios invisíveis que unem e sustentam os afetos.
Recém-divorciada, Glória busca recomeçar ao lado das três filhas, em um pequeno apartamento no centro de Curitiba. A nova rotina, no entanto, é permeada por medo e tensão: o ex-marido ameaça pedir a guarda das meninas, e a luta por estabilidade financeira é constante. Nesse cenário de vulnerabilidade, Laís Melo constrói um retrato preciso das mulheres da classe trabalhadora, que equilibram sobrevivência e afeto com uma coragem silenciosa, cotidiana e devastadora.

Há algo de profundamente humano em Nó. A diretora não se contenta em narrar a dor — ela a transforma em poesia visual, em planos que revelam as rachaduras do concreto e das relações. Cada enquadramento parece cuidadosamente pensado para transmitir um pedaço da alma de Glória: o olhar cansado, o gesto terno, a exaustão que nunca apaga o amor.
O elenco, afinado e intenso, é um dos maiores trunfos do filme. Saravy é monumental, mas o brilho se estende também às atrizes que vivem suas filhas, criando uma dinâmica familiar que parece de verdade. As interações entre elas são o coração da narrativa — pequenas trocas de afeto que, em meio ao caos, mantêm viva a esperança.
A relação entre Glória e sua melhor amiga, marcada por cumplicidade e competição, adiciona mais uma camada de complexidade. Quando as duas disputam o mesmo cargo na fábrica, o roteiro explora com delicadeza o peso das escolhas femininas em um mundo que insiste em colocar mulheres umas contra as outras. Não há vilãs aqui — apenas sobreviventes.
Com diálogos precisos e silêncios eloquentes, Nó se desenrola como uma dança entre o amor e o desespero, a resistência e o cansaço. Laís Melo demonstra uma maturidade impressionante ao transformar o cotidiano em manifesto, e o sofrimento em arte.
No fim, Nó é mais do que um drama social: é um filme sobre laços — os que sufocam, os que sustentam e os que, mesmo desfeitos, continuam a existir dentro da gente. Uma obra de sensibilidade rara, que reafirma a potência do cinema feito com empatia, coragem e verdade.




