Esse filme vai direto para a lista dos recomendáveis, das gratas surpresas, das felizes descobertas. Para quem estava procurando por algo diferente para assistir, Nosso Verão daria um Filme, é com certeza uma grande opção!
Demos (Yorgos Tsiantoulas) e Nikitas (Andreas Labropoulos) são amigos de longa data, ex-atores e parceiros de escrita. Ansiosos por se verem verdadeiramente representados na arte que tanto admiram, eles começam a escrever um roteiro do que será o primeiro filme dirigido por Nikitas, e assim relembram alguns eventos que mudaram a vida de cada um e tiveram grande impacto nos homens que eles são naquele momento.
Primeiramente, é ótimo assistir a uma gravação feita toda em Atenas mas sem necessariamente ter o elenco vestindo togas e contextualizado em séculos passados, grandes pontinhos para a contemporaneidade aqui, que logicamente vai muito além do cenário (maravilhoso), mas toca cada um dos pontos do filme, do elenco, produção e fotografia, até as questões políticas, sociais e culturais do roteiro que mergulha da comunidade LGBTQIA+ dos pés à cabeça.
Os dois personagens principais estão envolvidos em duas tramas paralelas, uma que remonta um verão passado, e outra atual em que filosofam sobre os acontecimentos vividos. Essa jogada com o enredo e o roteiro coloca quem está assistindo em uma conversa com eles, pois ao mesmo tempo que vamos formando nossas próprias opiniões, eles compartilham as deles. Ao final tudo se encaixa sem pontas soltas, mas ainda com reflexões para o futuro.
Outro grande atrativo do filme, é que para cada conceito há um símbolo, e é divertido procurar por eles durante o desenrolar da trama. Por exemplo, em determinado momento, vemos a relação de Demos com seu pai. Enquanto o personagem principal é comparado a uma menininha, e está acompanhado por uma cachorrinha com síndrome do abandono, o pai, antes de ser propriamente visto na tela, indiretamente é caracterizado como um tigre. Há uma estátua do animal na casa dos pais de Demos e o quarto em que o pai está faz alusão a uma selva. Contudo, quando Demos adentra a cova desde grande predador, o vê completamente inofensivo, enquanto ele, no auge da vitalidade está ao seu lado, resoluto, solidário, um homem melhor.
Enfim, em cada cena há algo para se ver de longe, como um observador clássico, e para se ver de perto, como alguém que quer, pode e deve fazer parte do que está sendo mostrado. E UAAAL, como as coisas são mostradas! Esqueça qualquer pudor antes de dar play e aproveite cada segundo!