O Artista

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“O Artista” não é apenas um retorno afetuoso aos primórdios do cinema, é uma recriação dos melodramas da época com maestria

Rotular O Artista como uma simples homenagem ao cinema mudo é subestimar o que o diretor Michel Hazanavicius conseguiu com o filme. Numa época em que o maior, o mais barulhento e o mais espetacular é interpretado como “melhor”, ele volta no tempo para uma época em que, embora a tecnologia fosse mais simples, a experiência podia ser mágica.

O Artista não é apenas um retorno afetuoso aos primórdios do cinema, é uma recriação dos melodramas da época. Hazanavicius não faz apenas um “filme mudo”, ele tenta entrar em um túnel do tempo e criar algo que poderia facilmente enganar todos, exceto os estudiosos e acadêmicos, fazendo-os acreditar que poderia ter sido um filme perdido de uma época passada.

O longa não poderia contar a mesma história se fosse feita usando técnicas convencionais de produção, isso é fato. Pareceria ingênuo e os temas seriam tensos e deselegantes. Não há dúvida de que O Artista possui um fator de novidade e joga a carta da nostalgia com ousadia, mas o resultado sensível é emocionalmente satisfatório. Na época em que o filme se passa, este teria sido o tipo de entretenimento convencional; hoje, é um evento artístico. Tal reflexão, de como os gostos mudaram, é uma das razões pelas quais Hazanavicius fez o filme da maneira como a fez.

O filme aborda um período de cinco anos, começando em 1927 e terminando em 1932. Para Hollywood (e para a indústria cinematográfica em geral), foi uma época de grandes mudanças. O primeiro filme falado estreava em outubro de 1927 e significava a ruína imediata para as produções mudas.

Em 1929, na primeira cerimônia do Oscar, seis filmes foram indicados para as duas categorias do que viria a se tornar o prêmio de Melhor Filme – todos eram mudos. Um ano depois, em 1930, quatro dos cinco indicados eram filmes falados. O único filme mudo a receber indicação foi Alta Traição (que teve uma trilha sonora musical adicionada na pós-produção) – foi o último filme mudo a receber reconhecimento. Luzes da Cidade, de Chaplin, considerado por muitos críticos (e por Orson Welles) seu melhor trabalho, foi ignorado pela Academia.

Para um filme que trata tanto de técnica, é surpreendente como a história é impactante. Mesmo com os atores adotando os estilos de seus colegas das décadas de 1920/30, o romantismo e o drama de O Artista são capazes de tocar fortemente o espectador. Não ficamos só fascinados pelas mudanças de paradigmas em Hollywood, mas também nos preocupamos com os personagens principais. O filme não tem vilões, a menos que se considere como inimigos o público retratado no filme, com a incerteza de sua preferência, e o avanço da tecnologia.

Se há um elemento cinematográfico que ajuda o filme a funcionar, é sua trilha sonora de Ludovic Bource. Num filme sem diálogos e (quase) sem efeitos sonoros, pede-se que a música carregue uma carga muito mais pesada do que num filme normal. A música de Bource é excelente, sublinha emoções – divertidas às vezes e sombrias outras.

O Artista contém muitos elementos que não terão apelo com o grande público – é francês, exige a leitura de legendas e é feito em preto e branco. No entanto, apesar disso (ou talvez por causa disso), é um dos filmes de mais interessantes do momento. O Artista, assim como A Invenção de Hugo Cabret, celebra a história do cinema, com uma história envolvente.

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