O Crime é Meu

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Novo filme de François Ozon equilibra diferentes tons

É desafiador equilibrar os diferentes tons cinematográficos de gêneros combinados em um único filme. “O Crime é Meu” é o mais novo exemplo onde tal equilíbrio é alcançado: um mistério de assassinato que funciona como uma comédia. As dificuldades em lidar com uma comédia do gênero estão principalmente na complexidade de achar o ritmo e a veia cômica, com diálogos afiados e espirituosos evitando a comédia pastelão.

É quase difícil falar sobre o filme sem ao tocar na premissa e dar algum spoiler, porque muita coisa está acontecendo, tanto na superfície quanto no caldeirão fervilhante de narrativas que François Ozon (“Potiche – Esposa Troféu”) habilmente toca e satiriza.

A inspiração teatral é evidente (assim como no seu maravilhoso “8 Mulheres”), mas a inversão de gênero do personagem advogado permite que Ozon toque nas perspectivas da irmandade, bem como no subtexto queer, especialmente no caso de Pauline, que nutre sentimentos por sua melhor amiga.

Como a química entre as duas atrizes é muito forte, não seria difícil imaginar Ozon se inclinando completamente, deixando o subtexto se tornar o texto. Mas isso também implicaria em Ozon inclinar-se para as convicções dos dias modernos e aplicá-las na premissa de um enredo dos anos 1930. O que não é o caso.

No final, Ozon nunca perde o controle sobre a natureza divertida da narrativa, mesmo que a loucura, especialmente no final do terceiro ato, beire o estapafúrdio. Mas seu foco na crescente irmandade entre as personagens femininas e no relacionamento entre elas, dá à narrativa uma base sólida para se sustentar, habilmente apoiada por um elenco forte. Os tópicos modernos com os quais ele escolhe lidar precisavam de um pouco mais de nuances e um pouco mais de profundidade, mas o ato de malabarismo entre diferentes tons díspares mais do que compensa.

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