O Culpado

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Jake Gyllenhaal transforma uma chamada de emergência em uma corrida policial

O Culpado, refilmagem do longa dinamarquês de 2018, mantém não apenas o mesmo título, assim como muda muito pouco parecendo uma refilmagem bastante direta de um filme de gerenciamento de crise nervoso e cheio de adrenalina. No longa, acompanhamos um sequestro mais complexo do que parece da perspectiva limitada de um atendente do serviço de emergência.

Transferido de Copenhagen para Los Angeles, onde o filme se desenrola em meio a um grande incêndio florestal, O Culpado é estrelado por Jake Gyllenhaal (Homem-Aranha: Longe de Casa) e quase ninguém mais. Riley Keough, Paul Dano e Ethan Hawke emprestam suas vozes, mas são os grandes olhos azuis de Gyllenhaal que observamos por quase 90 minutos. Esse é o ponto alto assertivo da adaptação de Antoine Fuqua (Sete Homens e um Destino): a câmera quase nunca sai de Gyllenhaal, que interpreta Joe Baylor, um policial que foi temporariamente rebaixado para atender chamadas em um centro de comunicações emergenciais.

Enquanto os outros operadores dão o melhor de si de maneira adequada e profissional, Joe vai além. Se um gato ficou preso em uma árvore, você pode imaginá-lo despachando todo o corpo de bombeiros para salvá-lo (e não se esqueça, eles estão muito ocupados lidando com os incêndios florestais que lotam as telas dos noticiários de TV que compõem uma parede da sala onde Joe trabalha), ou então transferindo a chamada para seu iPhone e dirigindo até lá para resgatá-lo sozinho. Assistindo, você não pode deixar de desejar que as operadoras de telefonia fossem tão dedicadas, em vez de colocá-lo na espera por 45 minutos e ainda assim não consigam resolver seu problema.

Joe anseia por ação, e ficar preso em uma mesa não vai impedi-lo de rastrear os bandidos. Não se engane: este é um filme de ação, mesmo que a ação esteja amplamente confinada às pontas dos dedos de Joe – a maneira em pânico com que ele atende uma chamada, os botões de discagem rápida que ele pressiona para ligar para a Patrulha Rodoviária da Califórnia ou para o Departamento de Polícia de Los Angeles. Seus dedos estão constantemente inquietos.

Enquanto Joe, Gyllenhaal sua, xinga, franze a testa e flexiona os braços. Você deveria estar observando seu rosto, mas até mesmo seus tríceps estão atuando – ou distraindo, conforme o caso. Se o roteirista Nic Pizzolatto tivesse descoberto uma maneira de Joe tirar a camisa em cena, ele certamente o faria, tudo para trazer ainda mais ação para a tela (ou distrações).

Mas O Culpado permanece uma versão fiel do original, uma revelação do Festival de Cinema de Sundance de 2018 que foi selecionado como a apresentação da Dinamarca (e posteriormente selecionado) na corrida internacional do Oscar daquele ano.

Quanto menos o público souber sobre as reviravoltas da trama, melhor. Assim como Enterrado Vivo ou Buscando…, o filme tira o máximo proveito de suas limitações. Mas há um grande erro de cálculo na forma como Gyllenhaal o interpreta, embora ele esteja ótimo no filme, tão diferente da energia “mantenha a calma e continue” da atuação de Jakob Cedergren no filme anterior. Fuqua não aborda a história como uma ligação normal para o 911, mas como uma situação de vida ou morte. Los Angeles pode estar pegando fogo nos bastidores da trama, mas Joe Baylor opta por tratar o sequestro com a urgência digna de um final de temporada de 24 Horas.

Por que ele se empenha tanto em resolver esta crise em particular? Por que ele insiste, ao falar com a criança envolvida, em dizer à menina preocupada que a polícia “protege as pessoas”? O filme é intitulado O Culpado, lembre-se, e Fuqua rebate a noção de que a consciência de Joe está em crise e que este trabalho – esta ligação, em específico – pode fazer a diferença na decisão da audiência jurídica na qual ele deverá comparecer no próximo dia.

Gyllenhaal está impressionante no papel, mas O Culpado seria mais eficaz se ele tivesse diminuído um pouco a intensidade. Mesmo com as mãos amarradas neste trabalho administrativo, Joe ainda consegue obter favores de seus colegas policiais. Ele tem mais poder do que faz sentido. E a ideia de que toda a emoção desta noite pode levá-lo a fazer a ligação que ele precisa fazer em sua própria vida leva a fantasia um pouco longe demais.

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