O Formidável

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"O Formidável" é encantador e picante

Michel Hazanavicius, diretor do vencedor do Oscar O Artista, lançou uma nova comédia com O Formidável, uma homenagem ao grande titã da cinematografia francesa, Jean-Luc Godard.
A influência que a New Wave francesa teve no cinema do século XX é inegavelmente esmagadora. No final da década de 1950 quatro jovens “pais” da New Wave ousaram deixar de lado os traços da clássica indústria cinematográfica de Hollywood e criaram uma linguagem visual intensa que mudou a produção cinematográfica totalmente.

O Formidável é a história de um desses quatro “pais” – Jean-Luc Godard. Hoje conhecido como um gênio vivo e venerado (ainda Marxista). Mas em meio às manifestações de maio de 1968, na França, ele foi um ativista político escandaloso e contraditório, tendo que lidar também com a crise da meia idade e sua esposa 20 anos mais nova, Anne Wiazemsky, que ele tinha acabado de conhecer nas filmagens de A Chinesa (1967), sua homenagem para a China maoísta.

A trama de O Formidável é baseada nas memórias de Wiazemsky, publicadas em 2015, contando sobre o casamento com o proeminente artista francês. O relacionamento feliz e romântico dos dois desmorona sob a pressão das atividades políticas radicais e da auto busca criativa de Godard.

Hazanavicius não perde a chance de sublinhar brevemente o legado da New Wave francesa usando uma série de invenções visuais típicas de Godard como planos amplos, movimentos de câmera, compilações de cores e uma montagem afiada.

O Formidável é uma comédia onde o radicalismo proletário é mostrado como uma demagogia ingênua da ociosa classe boêmia parisiense. Godard nasceu em uma rica família protestante de origem suíça e Wiazemsky é descendente da família imperial russa, neta do famoso escritor, ganhador do Prêmio Nobel, Francois Mauriac. É difícil imaginar como ambos, com esses antecedentes, abordariam o problema da desigualdade com sinceridade.

Quem dá vida à Godard é Louis Garrel, mais conhecido por ter interpretado amantes imprudentes em sua filmografia. O ator está irreconhecível sob a pesada maquiagem e cria com ela um personagem de caráter encantador e vulnerável. Suas ações, na melhor das intenções, muitas vezes acabam com outro par de óculos quebrados. Não há nada do Garrel de Os Sonhadores ou Um Verão Escaldante. Godard é o papel para o ator, cuja fama tende a ser explicada por sua boa aparência, mas aqui dá-se a chance de ele brilhar e ser aceito como um “bom ator”.

Anne é interpretada por Stacy Martin, conhecida por sua excelente atuação no drama Ninfomaníaca, de Lars Von Trier. Sua aparência como a esposa de Godard é menos surpreendente do que no caso de Louis Garrel, mas definitivamente é relevante, como uma boa lembrança de que há outra atriz interessante que vale a pena acompanhar no futuro.

O filme é um pouco mais longo do que os habituais 120 minutos, mas não há nada de errado com isso. A narração se desenrola suavemente e os efeitos visuais mantém os espectadores com os olhos vidrados na telona.

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