O Grande Hotel Budapeste

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“O Grande Hotel Budapeste”: Uma fuga cômica à estilística de Wes Anderson

O Grande Hotel Budapeste é um marco inconfundível da assinatura criativa de Wes Anderson, que traz seu estilo visual peculiar, com personagens excêntricos e cenários surreais. O filme mistura comédia, aventura e um toque de melancolia, proporcionando uma experiência cinematográfica que agrada os fãs do diretor e desafia quem se incomoda com a formalidade de sua estética. Em termos de impacto, este título ocupa um lugar intermediário na filmografia de Anderson: não tão adorável quanto Moonrise Kingdom, mas mais ágil que Viagem a Darjeeling. Com cerca de 90 minutos de aventura envolvente e cômica, o filme referencia clássicos e constrói uma identidade única.

A narrativa é estruturada como uma boneca russa, abrindo camadas de histórias dentro de histórias. Começamos com uma jovem lendo sobre um autor falecido, passamos para o próprio autor em 1980, que, por sua vez, relembra um encontro ocorrido 20 anos antes. Então, o filme nos leva aos anos 1930, no auge do hotel, que agora aparece como uma lembrança remota e desgastada. A trama principal, a qual realmente nos envolve, acontece nesta última camada, que é o verdadeiro palco para as intrigas de Zero Mustafa e o icônico concierge M. Gustave.

Nos anos 1930, quando a Europa está às portas da guerra, o Grande Hotel Budapeste brilha como um refúgio de luxo e elegância, resultado do impecável trabalho de M. Gustave (Ralph Fiennes) e seu aprendiz Zero (Tony Revolori). Mas tudo muda quando uma das hóspedes deixa um valioso quadro renascentista para Gustave, provocando a ira de seus herdeiros, liderados pelo ameaçador Dmitri (Adrien Brody). Acusado de assassinato, Gustave é preso, enquanto Dmitri e seu violento capanga Jopling (Willem Dafoe) fazem de tudo para encontrar um segundo testamento que complicaria a herança.

Ralph Fiennes brilha no papel de Gustave, um personagem que combina uma finesse exagerada com traços cômicos inesperados. Sua postura elegante e polida contrasta com seus ocasionais acessos de raiva e vulgaridade, criando uma figura engraçada e, ao mesmo tempo, encantadora. Gustave é o eixo ao redor do qual gira toda a trama, e sua excentricidade é tanto um alívio cômico quanto um reflexo da grandiosidade decadente do hotel e da própria sociedade da época.

A estadia de Gustave na prisão é um dos pontos altos do filme, trazendo homenagens a clássicos do gênero como Fugindo do Inferno e Inferno Nº 17. Já uma cena de perseguição montanha abaixo oferece uma paródia das cenas de ação exageradas que dominam o cinema moderno, culminando em uma reviravolta hilária. Como de costume, Anderson manipula cuidadosamente cada quadro, alternando entre múltiplos aspectos de tela para diferenciar os períodos e até utilizando cenas em preto e branco.

O elenco de O Grande Hotel Budapeste é composto por rostos familiares, com participações especiais de Mathieu Amalric, Harvey Keitel, Bill Murray, Jason Schwartzman, entre outros. A maioria já colaborou com Anderson em outras produções, mas esta é a primeira incursão de Fiennes em uma comédia do diretor, e o resultado é surpreendentemente satisfatório, considerando sua preferência por papéis mais sérios e sombrios.

O enredo imprevisível mantém o filme em ritmo acelerado, carregado com o humor característico de Anderson e enriquecido pela entrega cômica de um elenco experiente. Para quem procura uma narrativa diferente dos moldes convencionais, o filme oferece um respiro e um convite à fantasia. Ao mesmo tempo, não será o suficiente para conquistar quem considera o estilo do diretor inacessível ou excessivamente estilizado.

Embora O Grande Hotel Budapeste possa não transformar os críticos de Anderson em fãs, ele representa uma excelente opção para aqueles que buscam uma aventura inventiva e visualmente rica. É uma obra que, como o próprio hotel, nos transporta a um lugar distante, onde a estética refinada e a narrativa cômica se entrelaçam para oferecer uma experiência verdadeiramente única.

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