Esqueça o épico O Nascimento de uma Nação, de D.W. Griffith, lançado em 1915. O título escolhido para o drama de escravidão escrito, produzido, dirigido e atuado por Nate Parker poderia ser qualquer um e por si só o filme não deixaria de ser a conquista significativa que é.
Um século após o épico de D.W. Griffith iluminar as telas com imagens racistas destinadas a indignar e provocar, este novo O Nascimento de uma Nação conta de maneira confrontativa a vida de Nat Turner e a rebelião de escravos liderada por ele em 1831, com um olhar purificado e honesto que só um diretor como Nate Parker poderia alcançar.
12 Anos de Escravidão já foi um avanço no sentido de retratar este período triste da história americana. O Nascimento de uma Nação, embora mais convencional, ainda é bastante impressionante e leva a conversa ainda mais longe.
Apesar de ser um drama biográfico e baseado em fatos reais mergulhado em graça e horror, ele vai construindo a trama rumo a um final brutal que vai provocar emoções profundas e um mal-estar inevitável. Mas o filme ainda está mais para uma provocação teológica, uma luta sem medo com as intensas convicções espirituais que levaram Turner a fazer o que ele considerava anteriormente como impensável.
O prêmio do Festival de Sundance deste ano para o filme abre as discussões em um momento cultural particularmente fortuito. Não muito diferente de 12 Anos de Escravidão e Selma – Uma Luta pela Igualdade antes dele, o filme ocupa aquele espaço raro em nossas conversas sobre a injustiça racial convergindo com a lenta consciência da indústria cinematográfica e a falta de diversidade em suas produções.
Entretanto, este retrato belamente realizado cutuca feridas ainda não cicatrizadas e mesmo com um posicionamento cuidadoso terá que enfrentar a reação inevitável em alguns círculos, dado que o filme apresenta sua violência climática em termos complicados, mas inequivocamente heroicos.