O cinema nacional vive me surpreendendo. E com Os Amigos não foi diferente. Saí do cinema leve, feliz. E olha que o filme se passa em São Paulo, e chove, e alaga, e tem assalto. Mas também tem estrela, e poesia, e amizade.
O filme é supersimples. Não tem nada das grandes indagações, nada dos dramas forçados, nada dos romances tórridos. Seguimos o personagem principal, Théo (Marco Ricca), em um dia de sua vida. Ele vai ao enterro de um amigo de infância, e passa o dia pensando nele, na vida. Em paralelo, um grupo de crianças parece narrar as aventuras de Théo enquanto encena partes da odisseia de Ulisses. E a rotina de Théo, suas lembranças de infância, suas conversas com a amiga Majú (Dira Paes), permeados pelas crianças encenando, fazem com que o filme seja mágico.
Bom, o filme é simples, mas não simplista. Dá para fazer longas reflexões baseadas nele. Dá também pra apenas curtir sua incrível fotografia, com muitos closes, detalhes de texturas, cenas longas de nada em específico. Ah, e a poesia dos diálogos. Alguns me chamaram mais a atenção, como o discurso do padre no velório do amigo de Théo, já no começo do filme, que fala de deus, “se” houver um deus. E também a discussão de Théo, arquiteto, com o engenheiro da obra de uma escola que ele foi contratado pra fazer o projeto. O engenheiro quer fechar um vão, e Théo fala da importância dos espaços vazios, abertos, para que os alunos possam se relacionar entre si e com a natureza.
Amei o filme, mas ele não é pra todo mundo, já vou avisando. As cenas longas, os diálogos poéticos, não vão servir pra quem não gosta de filme contemplativo. E o filme deixa milhares de pontas soltas, ao léu. Se bem que a vida é assim, nunca certinha. Mas é sério: nem que você tenha que ir sozinho ao cinema, vá. Vale mesmo a pena.
Os Amigos
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