Ele está de volta! Por Ele (sim, pra muitos de nós ele é um Deus mesmo) eu quero dizer Tarantino, o cara que nos trouxe clássicos como Cães de Aluguel, Pulp Fiction – Tempo de Violência, os dois Kill Bill, Bastardos Inglórios e, em 2012, Django Livre. O último filme tinha sido um faroeste, e Tarantino gostou do gênero (que tem tudo a ver com ele mesmo) e continuou na onda, mas só que, claro, com um twist, quase que como uma releitura do gênero. E, voilà , temos à disposição Os Oito Odiados, com certeza um dos filmes mais brilhantes do diretor.
As caracterÃsticas básicas de Tarantino estão lá: os diálogos imensos (e meio que non sense), que chegam a te deixar meio que hipnotizado; a ultraviolência, que chega a ser cômica de tão absurda; os personagens caracterÃsticos, que neste filme vão despertar seu sentimento de ira mais profundo; a câmera incrivelmente hábil, que abusa de closes desconfortáveis, e uns planos mais abertos pra mostrar a paisagem de vez em quando; além da trilha sonora, que desta vez traz uma inovação: ao invés de uma compilação de músicas já existentes, Tarantino convidou o grande Ennio Morricone, compositor italiano que trabalhou com Sergio Leone em clássicos como a trilogia dos dólares (Por um Punhado de Dólares, Por uns Dólares a Mais e Três Homens em Conflito), pra desenvolver uma trilha original (e você pode ouvi-la AQUI). Ah, e outra novidade (porque ele gosta de ousar usando artifÃcios e tecnologias que não se usam há pelo menos uns 50-60 anos, né?) é que o Tarantino usou filme 70 mm ultra Panavision para capturar o filme, uma bitola maior que foi muito usada para filmar coisinhas básicas como Ben Hur, E o Vento Levou, e os musicais dos anos 50. Pena que não vamos poder apreciar toda essa maravilha (que só curtiu mesmo quem foi ao Road Show que o Tarantino organizou lá nos EUA, ó, que puxa :/), mas quem sabe pinta uma projeção dessas aà por São Paulo, né? (veja mais sobre a tecnologia AQUI).
A história começa em uma diligência, onde os quatro personagens principais da primeira parte do filme (se é que dá pra dizer que tem personagens principais em filmes do Tarantino) se reúnem pela primeira vez: Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), John “The Hangman” Ruth (Kurt Russell), Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) e Chris Mannix (Walton Goggins). Ah, e tem também o cocheiro, O.B. Jackson (James Parks). A história vai nos levando, e vamos descobrindo seus segredos, suas mentiras, e chega a um ponto em que não sabemos o que é verdade e o que é mentira (mas importa mesmo saber? Talvez…). Tudo que importa para entender a história é saber que todos estão indo para um lugar em comum: Red Rock, pra onde Ruth está levando Domergue para ser enforcada (e, claro, receber a recompensa), Warren está levando três corpos de bandidos pra receber a recompensa, e Mannix vai assumir seu posto como xerife. Mas quando esses quatro personagens fazem uma parada de emergência na hospedaria e loja de armarinhos da Minnie, procurando abrigo da nevasca que se aproxima, encontramos os últimos quatro personagens dessa trama (pra formar os oito odiados, oras bolas!): o carrasco Oswaldo Mobray (Tim Roth), o caseiro Bob (Demian Bichir), Joe Gage (Michael Madsen) e o General Sanford Smithers (Bruce Dern). E conforme a nevasca piora e a noite vai chegando, os ânimos esquentam, o café ferve, segredos são revelados, a história vira de ponta-cabeça e você vai tomar um banho de sangue.
Interessante pensar que apesar de ter sido capturado em filme 70 mm, digno de grandes cenários e paisagens, o filme tem como cenário, em sua maior parte, o confinamento da vendinha da Minnie. Esta é a grande sacada deste faroeste: a história tranca estes personagens violentos, que são caçadores de recompensa, ex-heróis da recém encerrada Guerra Civil americana, carrascos, xerifes, caseiros, malucos sanguinários em geral, em um cubÃculo cheio de ferramentas e quinquilharias, e as histórias destes personagens vão se cruzando, um conhece o outro, um odeia o outro, e ressentimentos vão surgindo, e muito preconceito e ódio vai transbordando. E essa panela de pressão estoura, claro, mas não sem antes desvendarmos todos os mistérios desta história meio hitchcockiana, meio agatha christiana (Guimarães Rosa acabou de se virar na tumba), criada com a maestria que só Tarantino poderia ter.
Bom, o lance, como em qualquer filme do Tarantino, é não ficar falando muito. Já falei tudo que tinha pra falar, dando uma ideia da história, do puta visual, da trilha sonora, e esqueci de falar um monte de coisas, porque é muita coisa pra falar. Dica? Vá ao cinema, compre uns 3 sacos de pipoca e mais uns 3 copos grandes de refri, mais umas balas e chocolate, e vá curtir. São três horas de cinema da melhor espécie, você vai curtir, vai delirar, vai sair de lá querendo voltar e ver o filme mais uma vez.
Nota:
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Os Oito Odiados
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