Aqui vão algumas informações rápidas sobre o filme:
- É um documentário arte.
- Possui cenas de filmes do extinto estúdio Atlântida.
- Venceu o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio de 2023.
- Tem muitos sambas antigos em sua trilha sonora.
- Traz personalidades da história do cinema mundial, como Orson Welles e Werner Herzog.
Qual a história de “Othelo, o Grande”?
A vida do homem Sebastião Bernardes de Souza Prata: negro, mineiro e baixinho, considerado um dos maiores e mais talentosos atores e comediantes do Brasil, Othelo foi o primeiro ator negro brasileiro a fazer parte do cinema e da televisão nacional.
Carlos Drumond de Andrade sobre Grande Othelo
Antes de dar minha opinião sobre o documentário, gostaria de reproduzir aqui algo que o poeta Carlos Drummond de Andrade disse quando lhe perguntaram qual brasileiro ele gostaria de ser. Eis o que o ilustre poeta respondeu:
“Eu gostaria de ser um sujeito múltiplo que pudesse rir e chorar num grande auditório e que também pudesse escrever, que também fosse simpático e que, finalmente, amasse muitas mulheres. Meu sonho tem nome e se chama Grande Otelo”.
Nada do que eu dissesse sobre Grande Othelo seria o suficiente para resumir o que ele foi, de uma forma tão bonita e singela como o fez Drummond. Um brasileiro que conseguiu chamar a atenção de Orson Welles e Werner Herzog, e que ainda hoje fascina a todos nós.
Documentário arte
Othelo, o Grande foge do estereótipo comum dos documentários biográficos que se multiplicam pelos streamings atuais. O diretor Lucas H. Rossi dos Santos teve a assertiva escolha de focar apenas na carreira artística de Grande Othelo, trazendo uma outra informação sobre a vida pessoal do artista.
A edição respeitou essa escolha e trouxe momentos belíssimos de contemplação e deleite artístico, em cenas muito bem escolhidas, que ajudaram a recontar brevemente a história do nosso cinema nacional. Não só a história do cinema, mas também a do samba e a do próprio Brasil.
Vale a pena ver “Othelo, o Grande?
Por fugir de um padrão de documentário comercial, o filme pode desagradar aqueles não acostumados com narrativas mais “alternativas”. O ritmo do longa é um pouco lento, mas proposital, já que o intuito é permitir uma imersão entre o samba e os planos escolhidos a dedo. São cenas de arquivo com Grande Othelo, muito delas com teor artístico indescritível.
Talvez, arrisco dizer, que o ritmo mais lento e a proposta contemplativa sejam ao mesmo tempo a melhor e a pior qualidade desse documentário. O mesmo que pode atrair algumas pessoas, pode afastar outras.
Talvez esse não fosse o tipo de homenagem que Grande Othelo gostaria de receber, já que foi um grande crítico do cinema novo, e de filmes que não abrangessem o maior público possível. Para ele, não fazia sentido agradar alguns se existir a possibilidade de fazer muitos sorrirem.
Mas também entendo que Othelo, o Grande trouxe para os tempos atuais uma oportunidade para as novas gerações de conhecerem esse grande humorista. Uma narrativa moderna para mentes modernas, mas ainda assim mantendo a essência do que foi o nosso Sebastião Bernardes de Souza Prata.