Pixels

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Há alguns anos a “pixelização” – a redução máxima de uma imagem a ponto dela ainda ser reconhecida – se tornou um elemento pop na internet. Filmes e séries famosas, pessoas, capas de discos e afins ganharam suas versões no que corriqueiramente lembrava os video games na década de 80. “Pixels” (2015), novo longa dirigido por Chris Columbus, tenta entrar no filão de filmes para o chamado público nerd e traz os grandes jogos da era de ouro dos arcades – por aqui também conhecidos como fliperamas – em um ataque alienigena contra a Terra.
Baseado no ótimo curta “Pixels” (2010), dirigido pelo francês Patrick Jean, o longa de Columbus nem de longe faz jus à inspiração de apenas dois minutos. Nessa adaptação, uma mensagem enviada pelos satélites da Nasa nos anos 80, na tentativa de mostrar a cultura da terra com imagens da época, é mal interpretada quando os alienígenas veem as cenas de games como Pac-Man e Donkey Kong. Achando que os humanos estão chamando para uma guerra, eles surgem sobre os céus usando como armas os personagens clássicos dos jogos de arcade, pixelizando tudo que aparece pela frente. E que melhor estratégia para combater esse inimigo do que jogar contra eles? Nesse caso, o presidente – um nerd frustrado – chama os campeões de cada jogo para elaborar estratégias para acabar com o inimigo.
É aí que entram em cena os estereótipos mais batidos – e comprovadamente sem graça – do que se conhece por nerd. Os caras do filme parecem ter tido apenas duas opções: frustrados ou bandidos. Há aquele que tem quase 40 anos e vive com a avó e acredita em teorias de conspiração, há o cara que sempre trapaceou em todas e está preso por tentar se sair bem, e há o Adam Sandler que sempre faz papel de vítima que acredita estar fazendo a piada certa. Não dá para entender porque ainda se insiste em colocar Sandler como protagonista em filmes de comédia. Chega a ser patético vê-lo travestido de Nerd – aquele tradicional cara que sabe tudo sobre o assunto, é machista e conquista a mulher mais bonita do filme – sem o menor carisma, sem empatia alguma com a direção, o roteiro e o espectador.
Mas “Pixels” não é ruim apenas na direção dos atores, que não sabem exatamente o que estão fazendo ali, ele é um filme repleto de péssimos diálogos e piadas que conseguem fazer muito bem uma coisa: reforçar estereótipos e insistir que o mundo dos games é voltado apenas à alguns antissociais e que as mulheres têm vez apenas se estiverem usando pouca roupa ou serem motivos para que eles tenham sonhos eróticos durante a noite. Elas simplesmente inexistem no filme. Algumas questões mais detalhadas, como de veracidade histórica, soam bem estranhas, como a aparição de um personagem de 1985, sendo que as imagens transmitidas aos aliens são de 1982.
Não dá para culpar totalmente Chris Columbus pelo filme fraco que é “Pixels”. O cara já dirigiu clássicos como “Esqueceram de Mim”, “Uma Babá quase Perfeita” e filmes da franquia Harry Potter. Ele simplesmente escreveu o roteiro de “Goonies”, mas com Adam Sandler e um Peter Dinklage (O Tyrion, do Game of Thrones) mal ultilizado com diálogos rasos fazendo referências nerds fáceis de encontrar na Wikipedia, torna tudo mais complicado. O que alivia um pouco o roteiro são os efeitos especiais, a forma como os pixels – no caso do 3D são voxels – se misturam ao meio das grandes cidades e monumentos é muito bacana e enche os olhos. Assim como o curta, o filme poderia ter aproveitado a ótima oportunidade de usar os efeitos disponíveis hoje e a estética do pixel, fazendo uma homenagem aos clássicos jogos que foram os primórdios das hiper-realidades mostradas nos games atuais. Mas ao invés disso, o filme prefere apostar em subplots fracos e repetitivos.
Mas “Pixels” é totalmente ruim? Não. O longa até se esforça para passar algumas mensagens interessantes. Em meio a situação de guerra entre aliens pixelizados e os humanos – quer dizer, americanos – uma criança joga “Last of Us” (jogo de Playstation, considerado um exemplo recente do avanço tecnológico dos games) e é questionada por Sam (Sandler) sobre a violência dos games atuais, “nos antigos pelo menos era fácil de se encontrar um padrão”. O menino rebate dizendo que hoje a experiência de jogar tem mais a ver com sobrevivência e menos com lógicas certas. Em um pequeno vislumbre, o filme coloca duas gerações dialogando sobre videogames, mas que poderia muito bem ser uma conversa sobre sobrevivência. Pena que esses momentos durem tão pouco.
Qual o melhor momento do filme? Os créditos, não só porque o filme finalmente terminou, mas porque muitas cenas do longa são reconstruídas no formato clássico 2D dos jogos de época. Se você tiver mais de 30 anos, com certeza vai sentir saudade de gastar moedinhas nos Arcades da sua cidade, mas se você não viveu essa época, não confie no que “Pixels” mostra, volte pra casa, procure na internet e veja tudo por si mesmo.

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