Em Quando Fala o Coração, Alfred Hitchcock explora a psique humana através de uma trama repleta de mistério e romance. Baseado no romance The House of Dr. Edwardes (1927), o filme conta a história da Dra. Constance Petersen (Ingrid Bergman), uma psiquiatra racional e dedicada que trabalha na clínica Green Manors. Sua vida é abalada pela chegada de um novo diretor, o Dr. Anthony Edwardes (Gregory Peck), cuja identidade e comportamento logo se revelam um enigma. Ao se apaixonar por ele, Constance embarca em uma investigação que mistura suspense, psicanálise e paixão, em busca de desvendar os segredos que ligam Edwardes ao seu passado sombrio.
Hitchcock faz de Quando Fala o Coração um dos primeiros filmes de Hollywood a mergulhar no universo da psicanálise freudiana, explorando conceitos como o complexo de culpa, o papel do subconsciente e a interpretação de sonhos. Essa abordagem ganha destaque na sequência de sonho projetada por Salvador Dalí, que adiciona uma camada surrealista e visualmente deslumbrante à narrativa. Ainda que breve, essa cena é um dos momentos mais memoráveis da obra, refletindo a luta interna do protagonista enquanto tenta recuperar sua memória e confrontar seus demônios internos.
Ingrid Bergman brilha como Constance, equilibrando a inteligência clínica de sua personagem com a vulnerabilidade emocional que o romance exige. Sua química com Gregory Peck é palpável, mesmo que o personagem de Peck, um homem dividido entre a confusão e o medo, não ofereça a mesma profundidade dramática. O elenco de apoio também merece aplausos, especialmente Michael Chekhov, que rouba a cena como o excêntrico Dr. Alexander Brulov.
A trilha sonora premiada de Miklós Rózsa contribui para o clima enigmático, alternando entre o suspense e a ternura com maestria. No entanto, o controle criativo do produtor David O. Selznick sobre o filme é perceptível, resultando em uma obra que, embora fascinante, carece da ousadia encontrada em trabalhos posteriores de Hitchcock, como Um Corpo que Cai e Psicose.
Quando Fala o Coração é uma peça de suspense psicológico que cativa ao combinar elementos do noir com uma análise do inconsciente humano. Embora não seja o ápice da filmografia de Hitchcock, permanece como um estudo intrigante sobre culpa, identidade e amor, ideal para aqueles que apreciam mistérios com uma boa dose de complexidade emocional.