Quando o Dia Chegar

Onde assistir
"Quando o Dia Chegar" estabelece um paralelo imediato entre a distância da Terra e da Lua e a liberdade do espaço com o aprisionamento de um orfanato

De 1961 até 1972, o Projeto Apollo da NASA, tentava conquistar um passo ousado para o homem, pisar na Lua. Esse evento era aguardado desde a sua promessa por adultos dos mais céticos até as crianças mais sonhadoras e esperançosas. Com esse vislumbre de uma paixão por algo desconhecido, o filme Quando o Dia Chegar, estabelece um paralelo imediato entre a distância da Terra e da Lua e a liberdade do espaço com o aprisionamento de um orfanato.

Baseado em fatos reais da história de um garoto dinamarquês apelidado de godhavn, o filme lindamente dirigido por Jesper W. Nielsen e escrito por Søren Sveistrup, mostra dois irmãos que por conta de um câncer inesperado de sua mãe e a incapacidade de seu tio de tomar conta dos meninos pela situação financeira, foram recolhidos para o abrigo de Gudbjerg. Um lugar que carrega todo tipo de machismo e anti-ética quanto ao seu dever social com esses meninos abandonados.

Elmer (Harald Kaiser Hermann), o mais novo, tem o sonho de ser astronauta, e esse aspecto do seu personagem narra os dias e o motiva a sonhar com um futuro longe e fora dali, mas também é trabalhado no roteiro para que todos tentem tirar isso dele e convencê-lo de que é pura bobagem e que ele nunca vai conseguir por estarem tão imersos na realidade e pessimismo criados pelo regime ditatorial do reformatório. O mais velho, Erik (Albert Rudbeck Lindhardt), tenta defender o caçula de todo tipo de agressão e humilhação entre os meninos, que parece muito leve se comparado a todos os abusos feitos pelos funcionários e diretores do orfanato.

Como todo filme histórico ou de guerra que trabalha com confinamento, é de praxe o estranhamento dos novatos e o bullying imediato com a inocência e a bondade. A hierarquia do ambiente extremamente hostil fica a cargo de uma equipe fechada comandada pela convicção doentia do diretor Heck (Lars Mikkelsen), que além de usar táticas agressivas no desejo de criar homens que não questionam e apenas executam tarefas que lhe são designadas, também oculta das pessoas de fora o que realmente acontece lá dentro, nessa situação segura e protegida, todos possuem permissão para fazer o que quiserem com os meninos, e essa prisão ganha má fama para as crianças, que levam a culpa por qualquer machucado ou reação que venham a ter. Além de abusos sexuais, físicos e verbais, existem também experimentos médicos.

A única esperança dos irmãos e dos outros, é a nova professora de Gudbjerg, interpretada por Sofie Gråbøl. A solução esperada do roteiro de antagonizar o poder autoritário masculino que invade o filme, deveria ser contido por uma força feminina, que mesmo sofrendo opressão e diminuição por seu gênero e pela cultura da época, encontra uma maneira de rebater as injustiças.

Por mais apelativo que pareça, o filme não procura deixar as coisas tão expostas em imagem, mas sim em sentimentos e reações de indignação. O trabalho do diretor em trazer esse peso do roteiro para dois atores mirins, é um dos maiores feitos do longa dinamarquês. É difícil ver um filme em que cada cena realmente importa e não foi justaposta por algum motivo externo a não ser pelo comprometimento com o cinema. Ainda que a narrativa se segure em algumas situações óbvias e esperadas, a construção para os momentos finais são de um alívio imenso. Por fim, Quando o Dia Chegar não se antecipa e conta com qualidade uma história triste e traumática de uma realidade não tão distante como a Lua.

Você também pode gostar...