O longa Retrato de um Certo Oriente, dirigido por Marcelo Gomes, é baseado no livro homônimo do escritor amazonense Milton Hatoum, publicado pela Companhia das Letras – vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 1990. A coprodução ítalo-brasileira será distribuída pela O2 Play, da O2 Filmes, no Brasil.
Segundo seu diretor, ele decidiu filmar em preto e branco para trazer uma aura de mistério ao filme e à Amazônia, retratando aquela imensidão verde em tons cinza. Sendo que a fotografia em preto e branco é um elemento-chave na narrativa, pois as fotografias evocam memórias de dias melhores, oferecendo uma possibilidade de cura para as feridas do passado.
A trama acontece no final da década de 1940 e começa no Líbano em um convento de freiras e continua em uma viagem de navio onde dois irmãos Emilie (Wafa’a Celine Halawi) e Emir (Zacaria Kaakour) encaram a aventura de ir para o Brasil em busca de vida nova. Como todos os irmãos que conheço, são muito diferentes entre si… Emir é intenso, melancólico e ligado ao passado, já Emilie é alegre, livre, leve e futurista. Devido a essas diferenças os irmãos entram em conflito, mas o amor que um sente pelo outro é bem palpável. Omar (Charbel Kamel) passa a ser um ponto de discórdia entre os dois. Lili, maneira carinhosa que Emir usa para se referir à irmã, faz de tudo para que ele seja mais fácil de lidar, porém sua amargura reflete em seus atos e escolhas. Quando chegam ao Brasil tomam um barco para Manaus e acabam necessitando passar um bom tempo na aldeia indígena de Anastácia (Rosa Peixoto) na Floresta Amazônica pois: “A erva do mato custa pra sarar, mas vai ficar bom…”
O filme é um retrato de um Brasil que é acolhedor com seus imigrantes, e traz à tona várias falas de vários povos, mostrando a tristeza de deixar a pátria natal ao lado da esperança de uma vida melhor em um mundo desconhecido.
Retrato de um Certo Oriente ainda traz à luz questões como o preconceito religioso e nos mostra a percepção de que o conhecimento da nossa cultura passa inevitavelmente pelo conhecimento das outras; e devemos especialmente reconhecer que somos uma cultura possível entre tantas outras, mas não a única. Traz ainda paixão e beleza, alegria e tristeza, presente e passado. É um belo filme para passear no universo cultural.