As duas décadas, entre o final de 1940 e o final de 1960, representaram o auge da popularidade dos musicais em Hollywood. Não apenas quase todas as grandes produções provaram ser sucesso nas bilheterias, mas a crítica também os ovacionava. Entre 1952, quando “Sinfonia em Paris” ganhou o Oscar, e 1969, quando “Oliver!” ganhou, seis dos 18 ganhadores de Melhor Filme foram musicais.
Um dos motivos do aumento da popularidade dos musicais no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, tanto na tela quanto nos bastidores, foi Gene Kelly. Seus dois filmes mais famosos, “Sinfonia em Paris” e “Cantando na Chuva”, tornaram-se, ao longo dos anos, símbolos da Era de Ouro dos musicais de Holywood.
“Sinfonia em Paris” é uma homenagem a George Gershwin, embora o compositor tenha morrido 14 anos antes do lançamento do filme, seu estilo está presente. Embora nenhuma das composições seja original e várias sejam interpretações do estilo dele, o filme entrelaça uma variedade de obras de Gershwin do início do século XX.
O tom é leve e a história, contada pelo roteirista Alan Jay Lerner, é bem tranquila e não chama atenção para si. O filme é mais sobre humor, dança e música do que sobre enredo e personagem. Ele é agradável de assistir, mas jamais será o ganhador do Oscar mais lembrado de sua época. Em muitos aspectos, é como um ensaio para “Cantando na Chuva”, lançado pouco depois, e que é muito melhor.
O filme acompanha as façanhas de Jerry Mulligan (Kelly), um americano que fica em Paris pós-guerra para pintar. Ele mora em um quarto minúsculo, raramente tem dinheiro suficiente para pagar uma refeição decente, pois nunca vendeu um quadro. Porém, na cidade, o amor o encontra quando ele menos espera – duas vezes. Seu trabalho chama a atenção de uma mulher rica, Milo Roberts (Nina Foch), que decide defender a arte e, mais particularmente, o artista. Jerry fica grato a ela, mas não se sente atraído romanticamente. A história é diferente com Lise (Leslie Caron), uma garota que ele conhece uma noite em um clube. É amor à primeira vista, mas há um problema. Lise está noiva do famoso cantor Henri Baurel (Georges Guetary) e não está disposta a terminar o noivado, mesmo que isso signifique que ela não possa estar com o homem que ama de verdade.
Como acontece com os filmes populares de Kelly, há muito canto e dança – tudo cuidadosamente coreografado por ele mesmo. E, embora o crédito da direção de “Sinfonia em Paris” seja de Vincente Minnelli, os envolvidos no filme admitiam que Kelly atuou como co-diretor. O tom do filme é impactado pela decisão de filmar em Hollywood, e não na França. O uso de pinturas de fundo confere um toque de conto de fadas à produção, o que realça o clima lúdico e romântico. Se “Sinfonia em Paris” tivesse sido filmado em locações, teria sido um filme mais profundo, mas talvez perdesse parte da sua delicadeza.
Quando filmou o longa, Kelly era uma estrela em ascensão. Este filme o catapultou para os holofotes de Hollywood – uma posição que ele não abriria mão até terminar sua carreira nas telonas, 30 anos depois, com “Xanadu”. Leslie Caron estreava nas telas após ser descoberta no palco por Kelly. O elenco coadjuvante é eclético, mas não contém grandes estrelas. Afinal, este é um filme de Kelly, e um daqueles raros casos em que ele não é acompanhado por um parceiro masculino igualmente talentoso (Frank Sinatra, Donald O’Connor, Fred Astaire).
Talvez a melhor coisa que se possa dizer sobre “Sinfonia em Paris” é que ele levou seu astro diretamente à produção de “Cantando na Chuva”. Sem um, talvez não tivesse existido o outro. Gene Kelly continua sendo uma das melhores e mais brilhantes estrelas musicais da Era de Ouro e aqui ele é visto em ótima forma. O filme deve ser lembrado por essa qualidade e não por seu questionável triunfo no Oscar.