Soberba

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O declínio da glória em "Soberba"

Dirigido por Orson Welles, Soberba explora a decadência de uma família aristocrática em meio às mudanças sociais e tecnológicas da virada do século XIX para o XX. Adaptado do romance de Booth Tarkington, o filme apresenta um estudo psicológico complexo, centrado no orgulho e nos conflitos familiares que acabam por determinar o destino trágico dos Ambersons.

A história começa com Isabel Amberson (Dolores Costello), herdeira de uma das famílias mais ricas de Indianápolis, recusando o amor de Eugene Morgan (Joseph Cotten) para se casar com o insosso Wilbur Minafer. Essa decisão molda não apenas sua vida, mas também a de seu filho George (Tim Holt), um jovem arrogante e superprotegido. Quando Wilbur morre e Eugene reaparece como um próspero industrial, a oposição de George à reaproximação dos dois intensifica o drama, revelando as falhas morais e emocionais de todos os envolvidos.

A direção de Welles, embora ambiciosa, é marcada por escolhas estilísticas que dividem opiniões. O uso dramático de sombras, ângulos de câmera incomuns e narração pontuada por seu inconfundível tom criam uma atmosfera melancólica, mas, por vezes, comprometem o ritmo do filme. O design de produção e a cinematografia de Stanley Cortez capturam a grandiosidade decadente dos Ambersons, simbolizando a inevitável queda de sua glória.

As atuações, especialmente a de Agnes Moorehead como a emocionalmente instável tia Fanny, são um destaque. Moorehead traz intensidade a cada cena, mas sua caracterização excessiva em momentos específicos pode distrair do núcleo da trama. Tim Holt, por outro lado, entrega uma performance competente como George, equilibrando arrogância e vulnerabilidade, enquanto Joseph Cotten confere dignidade ao papel de Eugene, o eterno apaixonado.

Apesar de suas virtudes, Soberba sofre com cortes de edição impostos pelo estúdio, que resultaram em uma versão final distante da visão original de Welles. Muitos arcos narrativos e transições parecem abruptos, prejudicando a profundidade emocional da história. O clímax, embora comovente, carece de um desenvolvimento mais orgânico que poderia ter elevado o impacto do desfecho.

Mesmo com suas imperfeições, Soberba permanece uma obra notável pela ousadia de Orson Welles em subverter convenções narrativas e visuais. É um retrato fascinante de orgulho e arrependimento, cuja força reside em sua tentativa de capturar as complexidades humanas e o inexorável avanço do tempo.

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