Obviamente, algumas questões abordadas por Um Estranho no Ninho já não são tão relevantes hoje como eram em meados da década de 1970, mas isso não diminui o impacto dramático do longa, segundo filme em inglês de Milos Forman, que ganharia dois Oscars (um por este filme e outro por Amadeus).
As técnicas de cuidados para saúde mental mostradas pelo filme já não se aplicam mais hoje (a terapia eletroconvulsiva raramente é usada e as lobotomias não são mais realizadas), mas os outros temas do filme continuam pertinentes. Superficialmente, o filme é sobre a luta entre o paciente Randle McMurphy (Jack Nicholson) e a enfermeira Ratched (Louise Fletcher). Nas entrelinhas, trata-se das tentativas de uma força autoritária para esmagar um indivíduo.
McMurphy está acostumado à prisão, cuja última condenação é por estupro. Em vez de passar um tempo atrás das grades, ele decide que seria mais fácil cumprir sua pena em um hospital psiquiátrico, então ele “se faz de louco”. O plano funciona, mas McMurphy logo descobre que a vida não é tão boa nessas instituições. As regras são mais flexíveis, mas alguns dos privilégios que ele associou à prisão – como poder assistir ao campeonato na TV – não se aplicam. Destemido, McMurphy começa a se tornar o homem mais popular da ala onde está internado, apelando para tipos tão diversos quanto o falador Martini (Danny DeVito) e o índio americano surdo-mudo, conhecido como “O Chefe” (Will Sampson). Para frustrar McMurphy a todo momento está a enfermeira Ratched, cujos métodos de tratamento são tão cheios de regras e regulamentos que ela não percebe que às vezes está fazendo mais mal do que bem.
O conflito mais evidente no filme é entre Ratched e McMurphy. Eles são antagonistas naturais. Ela é uma pessoa rigorosa, seguindo as regras, e ele é um espírito livre e violador de regras que vai além em qualquer oportunidade. Durante grande parte do filme, eles medem um ao outro, cada um vencendo pequenas lutas individuais. À medida que a narrativa acelera em direção à sua conclusão, McMurphy arrisca tudo. Quando ele perde, sabemos que acabou para ele. Apesar de ser a vilã do filme, Ratched não é malévola. Ela é fria e sem emoção, mas acredita que o que está fazendo é para a melhora dos pacientes. Ela é uma pessoa que faz coisas ruins pensando que está fazendo o bem. Isso a torna mais complexa e interessante do que um personagem que apenas representa o mal encarnado.
O final do filme é, sem surpresa, o seu aspecto mais forte. O destino de McMurphy, apresentado de maneira tão intransigente, é um soco no estômago, e um verdadeiro ato de amizade demonstrado a ele por um de seus colegas de instituição. Para um filme que é inspirador e otimista durante a maior parte de sua duração, é uma mudança de tom que deixa o espectador desorientado.
Como é retratado por Jack Nicholson, McMurphy é um dos personagens mais icônicos do cinema, por isso pode ser uma surpresa saber que ele não era a principal escolha dos cineastas. Ele só recebeu o papel depois que Gene Hackman e Marlon Brando o recusaram. Ele já havia sido indicado a quatro Oscars e os críticos estavam empolgados com seu papel em Chinatown. Acabou que McMurphy foi o papel que o impulsionou ao real estrelato. O filme o levou à primeira vitória como Melhor Ator. É uma performance incrível, com o ator trazendo à tona o humor e a emoção de McMurphy e mostrando que um homem são, quando preso em uma enfermaria cheia de companheiros insanos, pode enlouquecer também.
Ao dar vida à enfermeira Ratched, Louise Fletcher optou por não adotar a abordagem exagerada de transformar a personagem em uma megera. Em vez disso, ela a retrata como uma mulher inflexível que acreditava no que estava fazendo. A justiça (da cabeça dela), e não o sadismo, é o seu defeito. Essa interpretação também rendeu a Fletcher um Oscar, embora sua carreira após o filme não tenha seguido a mesma trajetória ascendente de Nicholson.
Outros nomes notáveis do elenco incluem Danny DeVito, Vincent Schiavelli e Christopher Lloyd, nenhum dos quais era muito conhecido na época em que fizeram o filme. Este foi o primeiro papel de Brad Dourif (o Grima – Língua de Cobra, de O Senhor dos Anéis) que foi indicado ao Oscar, mas não ganhou. O papel do Chefe ficou com Will Sampson, um nativo americano sem nenhuma experiência em atuação. Foi o primeiro papel de uma carreira de 12 anos para o ator, que terminou com sua morte prematura aos 54 anos, em 1987. Ele foi escolhido pelos cineastas porque foi o único índio americano que descobriram que correspondia à descrição do personagem como uma espécie de índio gigante (ele tinha 1,97m de altura).
Ken Kesey, que escreveu o livro no qual o longa se baseia, não gostou do roteiro creditado a Bo Goldman e Lawrence Hauben. Ele sentiu que o filme se desvia muito do material original e recusou-se a participar da divulgação. No entanto, Um Estranho no Ninho tornou-se um dos filmes mais celebrados da década de 1970, ganhando os “cinco grandes” Oscars (Ator, Atriz, Diretor, Filme e Roteiro) e tendo sido indicado para mais quatro categorias.
Os temas abordados em Um Estranho no Ninho permanecem pertinentes, a história não perdeu nada do seu impacto e as performances mantêm o seu frescor. Visto tantos anos após seu lançamento, o filme continua sendo um filme excelente, embora talvez perca um pouco da grandeza onde sua reputação sugere que ela reside.