Um homem e Uma mulher

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A escolha de Um homem e Uma mulher, filme de 1966 de Claude Lelouch, não poderia ser mais interessante para essa edição do Festival Varilux de Cinema Francês. O longa que na época levou a estatueta do Oscar de filme estrangeiro e a Palma de Ouro, faz algumas referências ao Brasil e a Bossa Nova, gênero musical brasileiro dos anos 60 que agradou muito os franceses. E nada melhor que a sensibilidade das composições de Baden Powell e Vinicius de Moraes para embalar uma história de amor.
O enredo de Um homem e Uma mulher é bastante simples e cativa o espectador mais pelas escolhas estéticas do que por um roteiro aprimorado. Anne Gauthier (Anouk Aimeé) e Jean-Louis Duroc (Jean-Louis Trintignant) são dois jovens viúvos que se conhecem por acaso na escola onde seus filhos estudam. Imediatamente atraídos, passam a se encontrar todos os fins de semana. Assim como o interesse que cresce entre eles, também começam a surgir pequenos obstáculos cotidianos que os fazem questionar se devem ou não ficar juntos.
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Ao mesmo tempo que Claude Lelouch estava filmando em uma época revolucionária para o cinema francês, ele também não encaixa Um homem e Uma mulher exatamente dentro dos padrões da chamada Nouvelle Vague. Ele não tem problemas em mostrar uma história banal e corriqueira entre um casal e inova através das escolhas de câmera e montagem, bastante vanguardistas para a época. A tentativa de baratear as filmagens, usando cores em ambientes externos, P&B e sépia para os internos, acabou deixando a estética do longa como uma das mais interessantes do momento. A falta de cores nos diálogos e situações do convívio particular deu mais sensibilidade às cenas que colocam em primeiro plano as ações corporais e expressões faciais.
Jean-Louis Trintignant (atualmente lembrado pelo ótimo Amor, de Michael Haneke) e Anouk Aimeé já vinham de trabalhos bem sucedidos. A atriz já havia trabalhado com Fellini, e Trintignant contava com um bom currículo naquela década. O entrosamento dos dois atores funciona bem, principalmente nos melhores momentos de diálogos, onde discutem – de forma até bastante metalínguística – o cinema (ela é roteirista) e as corridas, já que Duroc é piloto. Sempre usando uma linguagem própria através da montagem, Lelouch consegue passear entre diálogos realistas para planos mais oníricos, onde acontecem as lembranças e os pensamentos dos personagens.
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A trilha sonora do filme ficou por conta de Francis Lai (parceiro de Lelouch nesse departamento) e foi baseada em composições de Baden Powell e Vinicius de Morais, que na época havia acabado de lançar sua obra-prima, o disco Os Afrosambas. O ator e cantor Pierre Barouh era amigo de Powell e inclusive faz uma versão francesa de Samba da Benção em determinado momento do longa, quase uma prévia do que seriam os videoclipes décadas depois.
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Um homem e Uma mulher é um filme de concepções simples mas com uma bela fotografia e alguns bons diálogos. É sempre ótimo aliar um pouco de saudosismo, trilha sonora impecável, uma história de amor e um tanto de inovação cinematográfica para lembrar que o cinema é uma arte que viaja através do tempo e só fica melhor com o passar dele.
Nota:

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Varilux

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