Lançado em 1970, Aeroporto é um dos marcos iniciais do subgênero que ficaria conhecido como “filme-catástrofe”. Ambientado em um aeroporto em meio a uma forte nevasca, o longa entrelaça diversas tramas que convergem para um mesmo clímax: a ameaça de um passageiro instável, armado com uma bomba, a bordo de um voo comercial. Enquanto isso, o gerente do aeroporto lida com o caos na pista, voos atrasados, tensões e uma possível tragédia iminente.
Baseado no best-seller de Arthur Hailey, o filme aposta na fórmula do elenco estelar e da montagem paralela para manter o público entretido, mesmo com uma narrativa que, por vezes, escorrega no melodrama. Dean Martin, Burt Lancaster, Jean Seberg e Helen Hayes encabeçam a galeria de personagens que transitam entre o realismo e o estereótipo. Cada um deles tem seu momento de brilho, ainda que nenhum ganhe espaço para uma construção mais profunda.

A estrutura do roteiro, típica dos filmes-catástrofe que viriam a seguir, funciona como uma colcha de retalhos, apresentando múltiplas histórias pessoais — de romances extraconjugais a dramas familiares — enquanto a ameaça maior se aproxima. Essa estratégia cria uma tensão constante, ainda que premeditada, e permite que o espectador se envolva com o destino de vários personagens ao mesmo tempo.
Visualmente, Aeroporto tem o requinte de uma superprodução de sua época. A fotografia de Ernest Laszlo e a trilha sonora de Alfred Newman — sua última antes de falecer — adicionam um verniz clássico à experiência. O filme também impressiona pelo uso de cenários realistas e pela reconstituição eficiente do cotidiano aeroportuário, algo que ajuda a ancorar a trama, por mais extravagante que ela se torne.
Ainda que sua premissa central — um atentado em pleno voo — soe hoje como algo já explorado até a exaustão, Aeroporto tem o mérito de ter estabelecido um modelo narrativo que seria reciclado por toda a década seguinte. O sucesso estrondoso nas bilheterias levou à produção de várias continuações, além de inspirar paródias e imitações que ajudaram a cristalizar o gênero no imaginário popular.

É curioso notar como o filme lida com o medo coletivo do transporte aéreo, num período em que voar estava se tornando um hábito mais comum, mas ainda cercado de incertezas. Aeroporto canaliza essas ansiedades por meio de um espetáculo eficiente, ainda que raso em termos temáticos. A tensão não vem apenas da bomba iminente, mas também da sensação de que tudo pode dar errado a qualquer momento — e geralmente dá.
Hoje, Aeroporto pode parecer datado ou até ingênuo em alguns de seus exageros, mas continua sendo um retrato emblemático de uma era do cinema hollywoodiano que apostava alto no entretenimento coletivo, mesmo quando flertava com o absurdo. Sua importância histórica não está apenas na trama, mas no que ela inaugurou: um ciclo de filmes onde o caos, o heroísmo e o destino compartilhado se tornariam ingredientes recorrentes.




