A Era de Ouro

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"A Era de Ouro" tenta se ancorar na nostalgia, mas nem assim encontra profundidade na história que deseja contar.

Em “A Era de Ouro”, uma cinebiografia não devocional, sobre Neil Bogart, o magnata da indústria musical dos anos 70 que fundou a Casablanca Records, há um momento crucial que gira em torno da história de como ele, em uma festa, toca a versão de 3 minutos e 20 segundos de “Love to Love You Baby” de Donna Summer. Ele toca várias vezes porque seus convidados continuam pedindo. É quando Bogart percebe que a música precisava ser mais longa, muito mais longa – longa o suficiente para as pessoas transarem ao seu som — acabou sendo 16 minutos e 50 segundos. Portanto, presumimos que veremos Bogart se encontrar com Giorgio Moroder, o compositor e produtor da música, e mudar a história da música.

Acontece assim… mais ou menos. Bogart diz a Moroder que ele quer uma versão mais longa da música. Mas então o próprio Bogart, em Munique, se encontra com Donna Summer e gerencia uma sessão de gravação na qual a música é refeita. Bogart continua dizendo a Summer que a música precisa de algo a mais, e ele a faz começar a misturar gemidos orgásticos nos vocais.

Essa cena, que nunca aconteceu de fato, é meio ridícula, porque “Love to Love You Baby” já tinha aquele algo a mais (por isso o pessoal da festa de Bogart queria que ele continuasse tocando), e também porque o filme chega perto de dizer que o próprio Bogart era o autor da música. A atitude de “A Era de Ouro” parece ser: o que há de errado com um pouco de licença poética se isso aumenta o brilho de Bogart?

O que há de errado é que a verdade teria sido mais interessante. “A Era de Ouro” foi escrito e dirigido por Timothy Scott Bogart, que é o filho mais velho de Neil Bogart, e ele usa e abusa de muita licença poética. Ele não deveria, porque o espectador sabe que o que está sendo contado é fundamentalmente uma história de negócios – a saga de como Bogart, filho de um carteiro do Brooklyn, fundou o selo musical independente de maior sucesso de todos os tempos, e conseguiu porque ele tinha a audácia, a imprudência, a ousadia do judeu forasteiro e estava à frente da curva para apostar tudo nos artistas em que acreditava, mesmo quando as vendas de discos diziam o contrário.

Entramos no filme esperando que um docudrama da Casablanca Records seja um conto turbulento de sucesso e excesso. O excesso está lá, ao menos de forma simbólica, quando Bogart mergulha em um frasco de cocaína que lhe foi dado em uma festa pelo recém-contratado George Clinton. Cerca de cinco minutos depois, Bogart está espalhando as drogas na mesa de seu escritório, de modo que até mesmo seu pai caloteiro grita com ele: “O que há de errado com você?” antes de abaixar a voz para dar aquele golpe de misericórdia dos clichês: “Você perdeu a música, garoto”.

Há o filme biográfico como drama real, que tinha potencial para Oscar, e há o filme biográfico como um artigo mal escrito da Wikipedia (uma situação após a outra, sem nenhum alinhamento entre elas). Você pode procurar o artigo sobre a Casablanca Records na Wikipedia e ver que é, de fato, mais preciso – uma biografia melhor – do que o filme em si. “A Era de Ouro” se enquadra nessa categoria, infelizmente. Timothy Scott Bogart quer fazer justiça à história e ao legado de seu pai, mas o filme simplesmente não alcança o tom para isso.

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