A História do Som

Onde assistir
"A História do Som": Ecos do que amamos

Em A História do Som, o diretor Oliver Hermanus transforma o poder da música em uma ponte entre amor, memória e identidade. Ambientado entre os ecos da Primeira Guerra Mundial e as paisagens melancólicas da Nova Inglaterra, o filme acompanha Lionel (Paul Mescal) e David (Josh O’Connor), dois jovens que partem em uma jornada para registrar as vozes e canções antigas que marcam a cultura de uma américa ancestral. O que começa como uma missão documental se torna uma descoberta íntima — de si mesmos, do outro e do som como linguagem do amor.

Hermanus coloca as canções folk no centro da narrativa, não apenas como trilha sonora, mas como expressão viva da experiência humana. Essas músicas, passadas de geração em geração, carregam dores, alegrias e saudades que ecoam o romance entre Lionel e David. Cada balada é um fragmento de alma, e o diretor as filma com a reverência de quem entende que nelas há uma história coletiva — e que, ao cantá-las, seus personagens também se revelam.

Paul Mescal e Josh O’Connor constroem uma química de rara delicadeza. Há algo de O Segredo de Brokeback Mountain nessa relação, mas Hermanus evita repetir sua tragédia em favor de um lirismo mais silencioso. Lionel é o mais introspectivo, carregando a música como quem carrega um segredo, enquanto David representa a expressão, a voz que rompe o silêncio. Quando estão juntos, o tempo parece suspenso — e é nesse intervalo entre notas que o amor deles encontra forma.

Visualmente, o filme é um deslumbre. A fotografia alterna entre tons frios e dourados, espelhando o percurso emocional dos protagonistas. Das colinas de Kentucky às florestas do Maine, cada cenário parece pulsar com a lembrança do que foi vivido. Hermanus filma com a sensibilidade de quem ouve mais do que mostra: os silêncios, os respiros e o som do vento são parte essencial da composição.

Ainda assim, A História do Som perde parte de seu ritmo no meio do caminho. Quando Lionel segue sozinho, a narrativa parece se dispersar, ecoando a própria solidão do personagem. A ausência de David pesa, e o filme, por um tempo, se desconecta da força que o movia. Esse desvio, no entanto, serve para reforçar o peso emocional da música, que volta a ocupar o centro da história como o fio que costura suas memórias.

A beleza da obra está justamente nessa cadência: ora distante, ora íntima, sempre guiada por um mesmo som interior. Hermanus entende que a música é tanto lembrança quanto refúgio — e que o amor, assim como uma canção, pode permanecer mesmo depois do silêncio.

Com emoção e lirismo, A História do Som fala sobre o que permanece entre as notas, sobre os afetos que resistem ao tempo e sobre a beleza que há em escutar o outro. Um filme que não apenas se vê, mas se sente — e, acima de tudo, se ouve.

Você também pode gostar...