A Irmã Mais Nova

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"A Irmã Mais Nova": Entre o desejo e a devoção

Com delicadeza e firmeza, A Irmã Mais Nova se debruça sobre o amadurecimento de Fatima, uma jovem muçulmana que deixa o lar familiar para estudar filosofia em Paris. Inspirado em experiências autobiográficas, o filme de Hafsia Herzi mergulha nas tensões entre fé, tradição, desejo e liberdade — um terreno fértil para um retrato íntimo sobre a descoberta de si mesma.

A protagonista, vivida pela estreante Nadia Melliti, carrega o filme com uma presença reservada, que traduz bem o conflito interno de uma personagem dividida entre o amor à família e o despertar de sua sexualidade. Fatima é curiosa, inteligente e contida, mas aos poucos se permite viver novas experiências, guiada por uma vontade genuína de entender o mundo e o próprio corpo.

A diretora, conhecida por sua atuação marcante em O Segredo do Grão, revela um olhar seguro ao conduzir temas tão sensíveis. Herzi filma o desejo com respeito e naturalidade, evitando o olhar objetificador que marcou outros dramas lésbicos do cinema francês, como Azul é a Cor Mais Quente. Aqui, o erotismo surge não como espetáculo, mas como parte do processo de autodescoberta de Fatima.

As relações que a jovem estabelece, em especial com Ji-Na (Park Ji-min), enfermeira coreana por quem se apaixona, trazem ao filme um contraste interessante entre culturas, gerações e formas de encarar o amor. É com ela que Fatima parece, pela primeira vez, poder ser inteiramente honesta. Ainda assim, o filme evita soluções fáceis: mesmo o amor, aqui, é atravessado por dilemas de identidade e pertencimento.

Melliti entrega uma atuação contida, que por vezes parece fria, mas que se revela coerente com a trajetória da personagem. Sua postura fechada é a de quem aprendeu a sobreviver em silêncio, e quando as emoções finalmente transbordam, o impacto é sentido com mais força. Já Park Ji-min confirma o talento revelado em Retorno a Seul, adicionando calor e empatia à narrativa.

Visualmente, A Irmã Mais Nova aposta em uma estética naturalista, próxima do cotidiano, que reforça o tom introspectivo da história. Há momentos de poesia visual — como o contraste entre o concreto parisiense e os gestos delicados da protagonista — que ampliam o alcance emocional do filme, ainda que o ritmo, em alguns trechos, se torne um pouco hesitante.

Hafsia Herzi entrega um filme sensível e maduro, que não busca respostas definitivas, mas compreende a importância de formular as perguntas certas. A Irmã Mais Nova é um estudo de personagem que trata o conflito entre fé, desejo e liberdade com empatia e autenticidade — e que confirma Herzi como uma voz a ser acompanhada de perto no novo cinema francês.

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