A Sindicalista

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"A Sindicalista" joga na cara do espectador as relações de poder da atual sociedade

Gente, esse filme me deu nos nervos. É, já vou começar assim, porque as 2h01 de “A Sindicalista”, filme francês/alemão que está sendo lançado esta semana, me deixaram no meu limite. E não poderia ser diferente quando o filme joga na cara do espectador as relações de poder da atual sociedade, que continua mantendo a mulher no papel de louca, histérica e com nada a contribuir na política e nos negócios.

Primeiro, vale reforçar que o filme é baseado em fatos reais. Nele acompanhamos Maureen Kearney (interpretada de maneira brilhante por Isabelle Huppert), líder sindical de uma empresa estatal de energia nuclear francesa, a Areva, que acabou de passar por uma mudança de governo (de Sarkozy para Hollande) e de chefia da Areva (de uma mulher para um homem histérico, maluco e machista). E a cereja no bolo é que Maureen descobre que esse cara está planejando desmanterlar a estatal e negociar a tecnologia francesa com a China, levando para o brejo milhares de empregos.

O filme é feito de contrastes, que tendem a nos confundir, e bem de propósito. Primeiro, Maureen é uma mulher persistente e com um senso de propósito muito forte. Suas expressões faciais sempre persuasivas e enfáticas, além de uma postura ereta e rígida, só são contrastadas por sua figura frágil, com roupas coloridas e óculos com armações que vão mudando ao longo do filme, acompanhada por brincos multicoloridos. Em quem acreditamos? Em Maureen ou nos homens que tentam nos provar que ela mente e tenta nos manipular?

E o nome do filme em inglês, “The Sitting Duck”, uma expressão que pode ser entendida como “alvo fácil”, fala tudo sobre a situação de Maureen. Apesar de ser forte, competente e batalhadora, ela é rebaixada pelos homens que estão ao seu redor à posição de inferior, delicada, histérica, frágil. Um alvo fácil quando ela começa a incomodar poderosos políticos com intenções escusas. No final, nós, espectadores, já não sabemos mais em quem confiar, e também duvidamos de Maureen. Será mesmo que ela é tão idônea quanto está dizendo ser, ou é apenas uma mulher maluca tentando chamar atenção?

Se vale a pena ver o filme? Sem dúvida alguma! Mas esteja preparado para embarcar em uma jornada dolorosa, mas necessária. Vemos todos os dias, em todos os canais possíveis, mulheres sendo desqualificadas, tidas como aproveitadoras, surtadas, loucas. E a protagonista do filme, Maureen, vai te ajudar a revisitar isso tudo, e repensar seus conceitos.

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