Existem algumas decisões corajosas que só a DC Comics consegue tomar, principalmente quando se trata de um de seus personagens mais famosos, algumas delas podem custar a mudança de um curso com uma abordagem diferente para seus heróis. Os anos 80, foram cruciais para que os quadrinhos passassem uma mensagem mais adulta e marcante. Batman: A Piada Mortal, filme de animação dirigido por Sam Liu, adapta uma das HQs mais polêmicas e icônicas criada por Alan Moore e Brian Bolland.
São adicionadas ao filme algumas cenas que não estão no quadrinho, para completar e amarrar melhor a história tão subjetiva que é A Piada Mortal. No início já ouvimos a narração de Barbara Gordon, a Batgirl, que conversa com o expectador sabendo da surpresa que causa por ela estar no centro das atenções e da ação já no começo. A trama segue criando um laço estreito entre ela e Batman, que combatem o crime juntos, mas sua eficiência é anulada pelo detetive encapuzado que teme pela segurança da morcega. Essa situação de emasculação enaltece o machismo na dinâmica do casal, uma crítica forte que dialoga diretamente com as questões feministas discutidas ultimamente.
A ideia de que o Coringa está solto por aí não poderia ser mais assustadora. Em sua primeira aparição o palhaço atira em Barbara e captura seu pai, o Comissário Gordon. Tal ato deixa no ar um suposto estupro e abuso contra a Batgirl e causa sua situação permanente em uma cadeira de rodas. O clima triste e negativo é um pouco do que a cidade de Gotham representa no mundo da DC, fazendo total contraponto com Metrópolis por exemplo, que é uma cidade viva, otimista e casa de um Deus, Superman.
O filme também conta o passado do vilão em flashbacks e como ele surtou. A inocência e os problemas de um homem comum que precisa providenciar suprimentos para sua família pesam para ele até um limite de estalo em que ele é influenciado por bandidos para invadir a fábrica onde trabalhou se passando pelo Capuz Vermelho, golpe dos canalhas para ele ser pego, mas seu desespero e lamentação falam mais alto que a percepção para o que realmente está sendo tramado. E seu primeiro encontro com o Batman causa sua completa transformação, dando responsabilidade para o morcego.
A dinâmica entre o Batman e o Coringa é doentia e explorada de uma maneira particular nessa história, em que o herói chega num ponto em que precisa botar um fim nas ações do palhaço, já que ele não consegue contá-lo nem confiar numa cela prisional. Esse limite que define a sobrevivência de apenas um dos adversários abre a discussão sobre ótica, moral e insanidade do protagonista. Ninguém permanece bom em Gotham e todos são corruptíveis