Hoje o mundo desfila por aí com a internet no bolso, mandando e-mails, mensagens e ainda podendo fazer e receber ligações, tudo no mesmo dispositivo. Mas como tudo isso começou?
O longa dirigido por Matthew Johnson aborda a ascensão e queda do primeiro smartphone lançado no mundo, o telefone de teclado embutido BlackBerry. Para quem não lembra, o celular foi muito vendido mundialmente graças a sua enorme tecnologia para a época e consequentes funcionalidades. A história foi contada no livro Losing the Signals: The Untold Story Behind the Extraordinary Rise and Fall of BlackBerry, de Jacquie McNish e Sean Silcoff, e agora adaptada para o cinema.
Essa trama frenética de 1h40 inicia com os amigos de colégio Mike (Jay Baruchel) e Doug (Matt Johnson) que juntos alimentam o sonho de vender um protótipo de modem para uma grande empresa para assim ingressar em sua própria startup de TI. Durante uma apresentação de pitching para Jim (Glen Howerton), o cara não presta a mínima atenção e detesta o protótipo, mas no dia seguinte eles recebem sua ligação, agora interessado no produto e também em se tornar o CEO da empresa, oferecendo em troca decolar o produto no mercado. Assim nasce a empresa Research in Motion Inc, com sede em Waterloo, Ontário, Canadá, fazendo com que a região se tornasse o equivalente canadense ao Vale do Silício na época.
O filme explora muito bem a mistura de humor afiado com drama. O humor é muito bem representado no contraste dos personagens nerds e o tubarão Jim. Jim é ambicioso, focado, mau-humorado, não mede as palavras, xinga e grita com os funcionários, humilha as pessoas publicamente e faz de tudo para alcançar o sucesso. Já os apaixonados engenheiros nerds são ingênuos e passam seus dias entre códigos, circuitos e sessões de filmes clássicos dos anos 1980, inicialmente construindo seus produtos tecnológicos em garagens e sem verba nenhuma. Resumindo, os nerds são os “geniozinhos” de mentes brilhantes da parte técnica e Jim é o executivo vendedor ganancioso que faz as coisas acontecerem.
No entanto, BlackBery não é um daqueles “filmes de negócios para adultos” chatos de assistir, pois não mergulha demais na tecnicidade e história pessoal dos personagens, focando mais no humor cômico inteligente e na história de uma forma divertida de assistir, fazendo deste um bom entretenimento. O “filme-catástrofe empresarial” opta por uma estética documental, em algumas partes lembrando muito The Office, com aquele tipo de direção de câmera escondida, tipo filmagem manual e extremamente nervosa, tremendo sem parar de um lado para o outro, ajustando o foco durante cada plano, enquanto acompanha a mesma vibe de filmes similares, como A Rede Social, Tetris e Steve Jobs, que aparece no filme como o prenúncio da morte do BlackBerry, projetada no telão da RIM no icônico anúncio de apresentação de seu Iphone da Apple em 2007.
Essa comédia de erros corporativos discute com ótimas interpretações a ganância do mercado empresarial, os jogos desleais entre sócios, a competitividade do mercado e as relações entre custo e benefício em novas criações da indústria. Um ponto muito interessante do filme é a reconstrução de época da segunda metade dos anos 1990 até o início dos anos 2000, com uma trilha sonora embalada por hits desse período que antecedeu a entrada no mundo das redes sociais.
Hoje em dia é difícil viver sem um celular e praticamente impossível viver sem um smartphone. Com os distintos botões pretos que lhes deram nome, os telefones BlackBerry foram, por um tempo, muito populares entre empresários e funcionários do governo, inclusive Barack Obama era fã do aparelho. Entretanto, em menos de cinco anos o produto mais consumido da época ficou em total esquecimento. A Research in Motion não fabricou mais nenhum hardware e sim softwares de cibersegurança. Em 2013 a empresa mudou de nome e desde então o CEO foi John Chen. Em 4 de janeiro de 2022, a Blackberry chega ao fim com a desativação dos serviços.