Casa Gucci

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"Casa Gucci" é como se fosse o "Poderoso Chefão" do mundo da moda

Casa Gucci é aquele tipo de filme, baseado em fatos reais, que exala aquele fascínio traiçoeiro que já vimos em outras produções do tipo. Ele pode ser visto como um drama sobre uma rica dinastia da moda, com um elenco dominado por atores americanos emulando sotaques italianos espalhafatosos, mas ainda assim é mais do que isso.

Há momentos em Casa Gucci que vão te deixar de queixo caído (o que, claro, é uma das melhores coisas que podem acontecer no cinema), e momentos em que você vai rir da audácia do que você verá, mas só porque os personagens de um drama real se comportam de uma maneira desavergonhada não significa que o filme não exagere nos seus comportamentos. Casa Gucci é um docudrama picante que se diverte muito com sua grande lista de personagens ambiciosos e audaciosos, mas nunca é menos do que um filme sério e habilmente realizado.

Dirigido por Ridley Scott, naquele que é facilmente seu melhor trabalho desde Gladiador, o filme é envolvente justamente porque toma o mundo que ele nos mostra em seus próprios termos extravagantes. Casa Gucci é modelado da mesma forma que O Poderoso Chefão, e assim que você diz isso, pode soar como se você estivesse cometendo uma heresia. Não estou dizendo que o filme possui a mesma qualidade do clássico. Não é o caso. Mas a sofisticada história sobre como o poder realmente funciona: em um império de negócios, em uma família, entre pessoas que deveriam cuidar umas das outras. Aí é que reside toda a semelhança entre ambos os filmes.

O ano é 1978, e Patrizia Reggiani (Lady Gaga, de Nasce uma Estrela), uma alpinista social de classe média que trabalha para a empresa de caminhões de seu pai em Milão, se pavoneia pelo estacionamento com entusiasmo rebolando enquanto os motoristas assobiam para ela. Patrizia, no que o filme apresenta como um jeito bem italiano, sabe o que tem a seu favor e como usar. Em uma festa na mansão de um aristocrata, ela conhece Maurizio Gucci (Adam Driver, de História de um Casamento), um sujeito doce e um tanto desajeitado com óculos enormes, e ela se anima ao ouvir seu nome. Ele é um estudante de direito, o descendente do império da moda Gucci (mas, neste ponto, completamente desinteressado nos negócios da família). No dia seguinte, ela o segue até uma biblioteca para criar um encontro “casual”, e assim supomos que ela está em busca de algo mais.

Talvez sim, mas Lady Gaga a imbui com uma sinceridade. O rosto de Gaga mostra um fervor que transparece pelos seus olhos; ela tem o dom de uma atriz nata para permitir que você leia suas emoções enquanto mantém o mistério sob controle. Da forma como Gaga interpreta Patrizia, ela nos mostra como é possível olhar para alguém rico e se apaixonar por ele. O namoro deles tem uma afeição luxuriosa e envolvente.

Ao longo da projeção Lady Gaga estreita suas feições, deixando sua ferocidade aparecer. E assim Patrizia vai distorcendo a vontade de Maurizio. Mas a beleza da atuação de Gaga é que ela nunca nos deixa perder de vista a inocência com que Patrizia parecia navegar por cada uma das situações inicialmente. Patrizia muda, mas ela está perdendo a cabeça. Ligando-se a uma vidente da televisão chamada Pina (interpretada pela maravilhosa Salma Hayek, de Eternos).

A estética do império da moda Gucci, como retratado no filme, está presa a uma era mais antiga; a família não tinha um líder com visão de futuro, e nem um centro moral. Mas tem um Michael Corleone, como em O Poderoso Chefão: o querido e doce Maurizio, que começa como um cara legal, e então é puxado para as maquinações de sua esposa, que o iniciam no mundo do “poder”. Adam Driver, em uma atuação soberba, encena as mudanças em Maurizio de maneira bastante sútil. Maurizio acorda e percebe que está ressentido com o que Patrizia está fazendo com sua família; ela está destruindo tudo. No entanto, ao fazer exatamente aquilo que ela maquinava, ela infunde nele uma nova espécie de crueldade. E ele muda. Ele se torna… um Gucci.

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