Cavalgada

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"Cavalgada" é o terceiro filme anti-guerra a levar o Oscar de Melhor Filme, em 1934

Cavalgada, baseado na peça de Noel Coward, se tornou o terceiro filme anti-guerra a ganhar o Oscar de Melhor Filme nas seis primeiras cerimônias da premiação. Isso revela algo sobre a grandiosidade do que havia sido a Primeira Guerra Mundial na cabeça das pessoas daquela época. No entanto, quando Cavalgada foi indicado, em 1933, nuvens escuras se formavam sobre a Europa novamente. Foi em 1933 que o partido nazista assumiu o poder na Alemanha e, quando a cerimônia foi realizada, em 1934, Hitler já era chanceler e estava a caminho de se tornar presidente. Por mais profundas que fossem as cicatrizes da Primeira Grande Guerra, poucas lições foram aprendidas, exceto como matar pessoas com mais eficácia, aparentemente.

O filme conta a história de duas famílias britânicas desde 31 de dezembro de 1899 até 31 de dezembro de 1932. A família mais abastada são os Marryots, composta pelo pai, Sir Robert (Clive Brook), a mãe, Lady Jane (Diana Wynyard) e os filhos Edward (John Warburton) e Joe (Frank Lawton). A família mais pobre consiste no criado Alfred Bridges (Herbert Mundin), sua esposa, a empregada doméstica Ellen (Una O’Connor), e sua filha, Fanny (Ursula Jeans). Quando o filme começa, Robert e Alfred estão se preparando para lutar na Segunda Guerra dos Bôeres. Ambos se distinguem no combate. Após seu retorno, Robert é nomeado cavaleiro e Alfred pode deixar o serviço e se estabelecer como o proprietário de um pub em Londres.

A história avança aos saltos, ocasionalmente parando para descrever os impactos de algum evento histórico real sobre essas famílias fictícias: a morte da Rainha Vitória, o naufrágio do Titanic e o início da Primeira Guerra Mundial, são alguns exemplos. O filme passa seus momentos finais na Era do Jazz, encerrando suas histórias e oferecendo uma mensagem um tanto exagerada, mas estranhamente profética, sobre como os demagogos da época representam um perigo claro e presente para a esperança por uma paz que não veio.

Ao contrário de Cimarron (que conquistou o prêmio de Melhor Filme dois anos antes), este filme consegue apresentar com maestria uma história que abrange um período significativo de tempo. As transições são em sua maioria suaves (embora a montagem que liga os anos de 1914 a 1918 seja deselegante, apresentando um loop constante das mesmas poucas sequências), e não há saltos bruscos. A caracterização torna fácil acreditar que os personagens são versões mais velhas daqueles que conhecemos anteriormente.

Cavalgada apresenta algumas sequências complexas para uma produção de sua época, como a multidão aglomerada quando os soldados partem em um navio para participar da Guerra dos Bôeres, mas também há alguns casos onde a produção poupou custos e não entregou a grandiosidade que pretendia. O cortejo fúnebre da Rainha Vitória passa pela varanda onde os Marryots estão assistindo, a passagem é marcada com foco nos personagens assistindo – nunca vemos o que de fato está na rua.

A mensagem anti-guerra de Cavalgada é apresentada com mais sutileza do que em Asas e Sem Novidade no Front. A história está mais preocupada com a morte em potencial do que com uma tragédia real – como aqueles que acompanham a guerra de longe vivem em um estado constante de ansiedade, sem nunca saber se seu ente querido aparecerá em uma lista de vítimas. O filme também aborda o tema de como a guerra é um desperdício e irracional – é referido como uma forma de os homens ganharem suas medalhas e as nações exercitarem seus músculos.

O diretor Frank Lloyd ganhou um Oscar por Cavalgada (em 1930, ele recebeu três das sete indicações para a direção, ganhando por A Dama Divina). Depois de Cavalgada, Lloyd seria indicado mais uma vez, por O Grande Motim, de 1935, que também levou melhor filme naquele ano.

Cavalgada foi ovacionado em seu lançamento em 1933. A crítica positiva acabou impulsionando suas possibilidades no Oscar. O filme também foi bem sucedido financeiramente, arrecadando mais de sete vezes seu orçamento. Hoje, o filme ainda funciona relativamente bem, como um melodrama, mas é mais valioso por seus insights sobre o comportamento das pessoas durante o início dos anos 1930 e como elas viam as três décadas anteriores.

Talvez o mais interessante de ver em Cavalgada seja o que o rápido avanço da tecnologia e da indústria fez com que aqueles que viviam no início do século 20 se sentissem oprimidos pelo avanço da história. Com a calma da era vitoriana sendo destruída no Império Britânico com o alvorecer de uma nova era.

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