Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz, é um épico que conquistou um lugar tanto na história do cinema quanto nos bastidores turbulentos que quase afundaram a Twentieth Century Fox. Lançado em 1963, o filme é lembrado por sua escala grandiosa e por ser um marco na carreira de Elizabeth Taylor, ainda que sua produção problemática e narrativa desigual sejam notórias até hoje.
A trama acompanha a jornada política e pessoal de Cleópatra (Elizabeth Taylor), rainha do Egito, ao lado de figuras históricas como Júlio César (Rex Harrison) e Marco Antônio (Richard Burton). Apesar de ambiciosa, a narrativa frequentemente se perde em sua grandiosidade, tornando o filme um exemplo de como o excesso pode ofuscar o conteúdo. Ainda assim, é impossível ignorar a magnitude das locações, dos figurinos extravagantes e das cenas icônicas, como a chegada triunfal de Cleópatra a Roma.
O roteiro de Mankiewicz, conhecido por seus diálogos afiados em filmes como A Malvada, sofre aqui pela verborragia e pela falta de foco. Em pouco mais de 240 minutos, a história se alonga sem a tensão necessária para sustentar o interesse do público. Embora existam momentos de brilho – especialmente nos confrontos entre os personagens principais – muitas cenas parecem arrastadas, com diálogos que não avançam a narrativa.
Elizabeth Taylor, no entanto, é o coração do filme. Seu magnetismo é inegável, especialmente nos momentos dramáticos do segundo ato, onde ela revela o impacto emocional de sua performance. Ao seu lado, Rex Harrison se destaca como Júlio César, trazendo dignidade e carisma a um papel que poderia facilmente ser ofuscado pelo espetáculo ao redor. Richard Burton, embora poderoso, parece lutar para encontrar o tom ideal, o que reflete a falta de uniformidade no elenco.
Um dos maiores atrativos de Cleópatra está em sua opulência visual. Os figurinos luxuosos, projetados por Irene Sharaff e equipe, e os cenários monumentais são um deleite para os olhos, ganhando quatro Oscars técnicos merecidos. Contudo, o brilho dourado das produções não consegue mascarar o ritmo lento e a superficialidade política da história, que muitas vezes soa como um resumo simplista de eventos históricos complexos.
O impacto de Cleópatra vai além das telas, marcado pela química incendiária entre Taylor e Burton, cuja relação extraconjugal virou manchete em todo o mundo. Esse escândalo adiciona uma camada de curiosidade ao longa, mas também distrai da tentativa de Mankiewicz de criar um épico sobre ambição, poder e traição. O filme, infelizmente, é mais lembrado por sua tumultuada produção do que por suas qualidades cinematográficas.
Apesar de suas falhas, Cleópatra mantém um fascínio singular como um épico desmedido, repleto de momentos kitsch e cenas memoráveis. É uma experiência cinematográfica que reflete tanto a ambição quanto os limites de Hollywood nos anos 1960, e mesmo quando se afunda em suas próprias pretensões, oferece vislumbres do esplendor que buscava alcançar.