Drácula – A Última Viagem do Deméter

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"Drácula - A Última Viagem do Deméter" é um conto maçante do personagem, baseado em apenas um dos capítulos do livro original

Há uma razão pela qual Drácula permanece como uma figura que fascina os cineastas de terror há mais de um século. O vampiro de Bram Stoker mostra-se infinitamente maleável, sujeito a todos os tipos de representações. De atores como Max Schreck, Bela Lugosi, Christopher Lee, Frank Langella, Gary Oldman e, mais recentemente, Nicolas Cage. O papel é interessantíssimo, especialmente porque o Conde pode ser tão sexy quanto ameaçador, tão sedutor quanto mortal.

Isto é, até sua interpretação no filme de terror gótico de André Øvredal baseado em um único capítulo, “O Diário do Capitão”, do romance clássico de Stoker. Conforme retratado por Javier Botet, ele é um vampiro que parece mais uma criatura selvagem e feral do que qualquer coisa que se assemelhe a uma figura sedutora que poderia razoavelmente passar incólume pela sociedade. Ele é um dos Dráculas mais viscerais já vistos na tela, mas também é um dos mais desinteressantes.

Parecendo uma mistura entre uma peça de teatro com a sensibilidade sangrenta da Hammer Films, “Drácula – A Última Viagem do Deméter” busca representar a fatídica travessia marítima onde o caixão de Drácula é transportado para Londres, chegando ao seu destino sem sobreviventes (isso não é um spoiler, mesmo para quem não conhece a história, já que essa informação é dada já no primeiro minuto de filme).

Começamos com o flashback narrado a partir do diário de bordo do capitão Elliot (Liam Cunningham, de “Game of Thrones”), mostrando seus esforços para conseguir novos membros para a tripulação do Deméter antes de partir em sua enfadonha e desconhecida missão. Entre eles está Clemens (Corey Hawkins), um homem negro que oferece suas habilidades como marinheiro experiente e médico. Inicialmente rejeitado pelo preconceituoso primeiro imediato do navio, Wojchek (David Dastmalchian, de “Duna”), Clemens é contratado no último minuto depois de resgatar o jovem neto do capitão, Toby (Woody Norman) de ser esmagado por uma caixa que caiu do barco.

Acaba sendo uma péssima escolha de carreira para Clemens, já que eventos sinistros começam a ocorrer no Deméter logo após sua partida. Todos os animais do barco são abatidos, com mordidas horríveis no pescoço. Uma jovem clandestina à beira da morte é encontrada, e Clements cuida dela até recuperá-la. Ela é Anna (Aisling Franciosi), que teve alguma experiência fatídica com a figura malévola a bordo. Depois disso, os tripulantes começam a ser apanhados um a um, sempre depois do pôr do sol.

Sim, Drácula está a bordo, dormindo durante o dia em um caixão cheio de terra de sua “querida” Transilvânia natal. E ele não faz prisioneiros, embora os ataques violentos que ele perpetra, vistos apenas nas sombras por alguns segundos de cada vez, acabem parecendo mais repetitivos do que aterrorizantes. Não ajuda em nada que os personagens pareçam lentos em compreender o que está acontecendo.

“O mal está a bordo, um mal poderoso”, diz o cozinheiro ultrarreligioso do navio (Jon Jon Briones, de “Ratched”). O cozinheiro também percebe que até mesmo os ratos a bordo parecem ter desaparecido. Embora você não possa culpar os ratos por fugirem de um navio afundando ou de um filme de terror cada vez mais tedioso (você vai querer fugir com eles).

Øvredal é experiente nesse tipo de filme, tendo anteriormente dirigido “Caçador de Trolls”, “A Autópsia” e “Histórias Assustadoras para Contar no Escuro”. Ele lida habilmente com a atmosfera sombria e assustadora. Mas ele não é capaz de trazer muita novidade ao roteiro lento e estereotipado do longa, que carece de mais agilidade e novidade para nos manter investidos nos ataques sangrentos do vampirão.

Javier Botet, que interpreta o Drácula, é outro especialista no gênero, tendo anteriormente utilizado sua fisicalidade desengonçada em filmes como “Mama”, “Slender Man – Pesadelo Sem Rosto” e muitos outros. Equipado com próteses, ele certamente se torna uma figura assustadora, mesmo sem o ocasional exagero da computação gráfica. Mas sua criatura parecida com um animal não tem lá muita personalidade, parecendo tão genérica que o filme poderia servir igualmente como a história de qualquer outro personagem, que não o Drácula.

Lá pelo meio do longa, você vai desejar um bote salva-vidas. Não para fugir do Drácula, mas para fugir do filme mesmo.

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