Aqui vão algumas informações rápidas sobre o filme:
- Produzido e filmado em diversos países, entre eles França e Camboja.
- Dirigido pelo cambojano Rithy Panh.
- Docudrama (mistura eventos reais com ficção).
- Tem como pano de fundo o regime do ditador Pol Plot.
- Os massacres ocorridos durante o Khmer Vermelho não foram mostrados em respeito às memórias das vítimas.
Qual a história de “Encontro com o Ditador”?
1978. Durante três anos, o Camboja, agora Kampuchea Democrático, esteve sob a opressão de Pol Pot e do seu Khmer Vermelho. Atualmente, o país está economicamente devastado e quase dois milhões de cambojanos morreram num genocídio que permanece silencioso.
O cinema e seu papel político no mundo
O Khmer Vermelho, ou Quemer Vermelho, era como se chamava os seguidores do partido comunista no Camboja liderado pelo ditador Pol Pot. Esse período ficou marcado por uma limpeza ideológica e genocídio de massa. Entre 1975 a 1979, o Camboja colocou em prática uma visão de socialismo rural, buscando uma forte reforma agrária. Para o Khemer Vermelho, ter uma educação básica era ser considerado um alvo. Pessoas das classes média e alta eram vistas como corruptas, ou passíveis de corrupção.
O genocídio que se seguiu marcou o Camboja para sempre. Países muito distantes, como o Brasil, pouco sabem dessa história. E aí que entra o cinema e sua capacidade de denunciar abusos políticos praticados no presente e no passado. É uma faca de dois gumes, já que o cinema também serve como ferramenta doutrinária ao introduzir ideias e pontos de vistas bem específicos. No caso de Encontro com o Ditador, o filme buscou retratar a história com certo cuidado para não exagerar nos eventos mais dolorosos. Esse zelo, ou respeito, permitiu que o diretor Rithy Panh nos presenteasse com cenas bem construídas e inteligentes.
A direção inteligente de Rithy Panh
Estamos acostumados a um cinema comercial que usa e abusa dos gráficos para construir uma narrativa interessante. Isso ajuda quando o roteiro não é bom, pois cenas impactantes costumam prender mais a atenção do que diálogos mal construídos. O cambojano Rithy Panh escolhe o caminho contrário. Não há dúvidas que o recorte histórico no qual Encontro com o Ditador se apoia forneceria cenas de grande impacto visual. Mas o diretor escolheu o caminho da sugestão ao invés da pura exposição. Em grande parte, pelo orçamento reduzido, e em outra pelo respeito às vítimas que sofreram com a gestão de Pol Plot.
Panh utiliza de simbolismos para criar metáforas visuais interessantes. É uma via de mão dupla, já que espectadores mais distraídos, ou carentes de bagagem imagética, podem não apreciar o filme em todo seu potencial.
Vale a pena ver “Encontro com o Ditador?
Com certeza! Imagine que um filme produzido do outro lado do mundo, reproduzindo um período da história pouco conhecido para nós, seja capaz de nos prender de tal forma que nos envolvemos totalmente. Esse filme é Encontro com o Ditador. O suspense que se constrói nas cenas cresce à medida que o roteiro se desenvolve.
É uma obra com direção inteligente e minimalista. Ouso dizer que é um filme que pode ser usado como modelo de construção de docudramas, principalmente quando se tem restrição orçamentária. Os cineastas brasileiros poderiam aproveitar as lições presentes em Encontro com o Ditador. Uma verdadeira aula de como se fazer um filme interessante.